Controladas rebeliões em cadeias do Paraná

Presos rebelados de duas cadeias do interior do Paraná se entregaram ontem e a polícia retomou o controle das unidades prisionais. Em Foz do Iguaçu, o motim encerrou às 9h30 e em Campo Mourão às 13h30. No domingo, foram registradas rebeliões em seis cadeias públicas do Estado. Além de Foz do Iguaçu e Campo Mourão, os presos se rebelaram em Cascavel, Toledo, Assis Chateaubriand e Umuarama. Nestas quatro unidades, os motins foram rápidos, com duração entre uma e duas horas.

 Em Foz do Iguaçu, os 270 detentos do piso superior da cadeia pública Laudemir Neves permaneceram toda a madrugada no telhado do cadeião. Às 6h, Vagner Reginato, preso por homicídio, saltou do telhado do cadeião, de uma altura de aproximadamente 20 metros. Ele alegou que seria feito refém pelos colegas e tomou a atitude para escapar. Na queda, Vagner fraturou a perna. Ele recebeu atendimento médico e retornou ao xadrez. Um funcionário e outros três detentos, que foram mantidos reféns, foram libertados. Os presos apresentavam ferimentos superficiais.

Os presos jogaram colchões em chamas próximo a diversos veículos. Uma viatura foi totalmente queimada e outra depredada com pedras. Além disso, outros quatro veículos particulares foram depredados. Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Civil de Foz, os presos destruíram seis celas, retiraram as grades, anificaram o solário, o telhado e parte do sistema hidráulico da cadeia.

Campo Mourão

Em Campo Mourão, os presos simularam que um detento estava passando mal. Quando o carcereiro João Carlos entrou na cadeia para socorrê-lo, foi rendido pelos 128 detentos, às 20h de domingo. Além do carcereiro, os rebelados fizeram outros 20 presos reféns. Eles arrancaram grades e fizeram estoques, além de ameaçar os reféns com facas. Durante o movimento, os presos atearam fogo no solário.

O superintendente Job de Freitas, da 16.ª Subdivisão da Polícia Civil, informou que os presos fizeram várias reivindicações, inclusive um telefone celular. Por volta das 9h de ontem, os detentos pediram a presença do juiz e de uma equipe de televisão. ?Atendemos todos os pedidos porque eles prometeram soltar o carcereiro. Como não cumpriram, paramos?, contou o policial.

Às 13h30 os presos conversaram com o superintendente, com o delegado Haroldo Davison e um advogado. Em seguida, decidiram se entregar e jogaram estoques, barras de ferro e três telefones celulares. Os estragos realizados pela rebelião ainda estão sendo contabilizados.

Reforço

Apesar de o secretário estadual de Segurança, Luiz Fernando Delazari, não acreditar que as rebeliões ocorridas em seis cadeias públicas do Estado estejam interligadas com as que acontecem nos presídios paulistas, lideradas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), os plantões das delegacias especializadas e distritos, que abrigam detentos, foram reforçados ainda no sábado.

Preso em flagrante braço do PCC no Estado

Lígia Martoni

O advogado criminalista André Lanzoni Pereira, preso ontem em Curitiba, seria o responsável por estender à capital paranaense os movimentos da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) no Paraná. Foi autuado em flagrante no Centro de Detenção Provisória de São José dos Pinhais após incitar os presos a provocarem uma rebelião, a mando de lideranças do PCC, a partir da capital paulista.

Pereira foi levado para o Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), onde foi autuado. Imediatamente – como é usualmente feito quando um advogado é preso -, a seccional Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR) designou um advogado para acompanhar o flagrante: Dálio Zippin Filho. Ele conta que a prisão aconteceu porque o indiciado orientava quatro detentos, sob ordens vindas do PCC, que agissem imediatamente, tomando providências necessárias para o início de uma rebelião. ?Acabou despertando suspeita da segurança do presídio, que chegou a escutar a conversa dele?, conta Zippin. Segundo ele, constam informações de que André é braço do PCC em Curitiba há quatro anos. Este, no entanto, reservou-se o direito de se defender somente em juízo.

O presidente da OAB-PR, Manoel Antônio de Oliveira Franco, foi avisado pelo Cope – onde o delegado Rodrigo Brown de Oliveira comanda as investigações do caso – a respeito do flagrante. Explicou que a nomeação de um advogado para acompanhar outro preso é procedimento da Ordem, mas que, no caso de este ser culpado, a OAB não irá defendê-lo. ?A Ordem não protege ninguém que esteja agindo fora dos padrões da ética e disciplina funcionais. Defende, sim, o profissional inscrito na seccional que esteja no exercício da advocacia; aquele que age associado ao crime não está se portando como um advogado?, disse.

A Secretaria de Estado da Segurança Pública insiste que não há relação entre as rebeliões no Paraná e o terrorismo civil que assombra São Paulo desde a semana passada, a mando do PCC. Em nota oficial, anunciou que ?nenhum dos seis movimentos registrados nas cadeias públicas do Paraná entre hoje e ontem têm ligação direta ou coordenação do Primeiro Comando da Capital (PCC)?. A Sesp não descarta, porém, que ?a facção criminosa tenha no Paraná alguns de seus integrantes e que eles possam tentar desencadear movimentos contra a ordem?. Finaliza dizendo que ?a população pode estar segura que o governo do Paraná trabalha dia e noite e que será implacável com qualquer tipo de manifestação de presos em cadeias e penitenciárias deste Estado?.

Rebeliões prestes a estourar nas penitenciárias

?As rebeliões nas penitenciárias do Paraná podem estourar a qualquer momento.? A afirmação é do advogado Dálio Zippin Filho, que integra a Comissão do Conselho Penitenciário e de Direitos Humanos. Para Zippin, o movimento em São Paulo não é isolado e as rebeliões nas cadeias públicas paranaenses estão relacionadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e ao Primeiro Comando do Paraná (PCP).

Zippin lembrou que, há dois anos, ele e o juiz da Vara de Execuções Penais receberam ameaças de integrantes do movimento. ?Naquela época, o então secretário de Segurança menosprezou a existência do PCC e do PCP?, comentou o advogado.

Ele disse que há duas semanas os presos da Prisão Provisória de Piraquara (PEP) ameaçaram se rebelar, alegando que o chefe de segurança do presídio estava ?endurecendo?. ?Eles avisaram que iriam se rebelar e matar o chefe de segurança, que foi trocado?, informou Zippin. Ele denunciou que os agentes penitenciários do Paraná estão sendo monitorados pelos integrantes de facções criminosas, que sabem as placas de seus carros e até mesmo os trajetos habituais.

Zippin enfatizou que uma das plataformas do PCC é a promessa de melhorar as condições carcerárias, que também foram pedidas pelos detentos rebelados no Paraná. ?Estas rebeliões e ataques são uma demonstração de força destas facções?, comentou o advogado. Para ele, o Paraná corre altos riscos de enfrentar ataques e rebeliões nos mesmos moldes de São Paulo. ?As autoridades têm que agir com rigor, mas sem a violação dos direitos fundamentais?, frisou Zippin.

Governador descarta ligação com São Paulo

Durante a reunião semanal da operação Mãos Limpas, ontem, o governador Roberto Requião afirmou que os protestos de presos não estão ligados às movimentações do Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo. No Paraná, os protestos limitaram-se às cadeias públicas, destinadas a presos provisórios.

?Não tivemos nenhum registro de manifestação no sistema penitenciário. O que tivemos foram protestos em algumas cadeias públicas, que foram motivados por problemas de superlotação. Isto será solucionado nos próximos meses com a construção de doze penitenciárias em várias regiões do Estado?, afirmou o governador.

O secretário da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, avaliou que as manifestações no Paraná foram ?oportunistas?, já que teriam aproveitado a onda de rebeliões em São Paulo. ?Aqui, tivemos diversas reivindicações para melhorar a condição de superlotação das cadeias. Em Toledo, Cascavel, Assis Chateaubriand, Umuarama e Campo Mourão tivemos manifestações que foram rapidamente controladas?, disse o secretário.

Segundo o secretário da Justiça e da Cidadania, desembargador Jair Ramos Braga, a rotina do sistema penitenciário do Paraná, formado por 22 unidades prisionais, mantém seu funcionamento normal. Segundo o governo do Estado, a Polícia Militar está em alerta, caso seja constatada alguma alteração, o que não havia sido detectado em nenhuma penitenciária.

Voltar ao topo