Conflitos entre gangues rivais deixam três mortos

O sangue de três jovens integrantes de gangues rivais manchou as ruas da Vila Camargo, no Cajuru. Num período de doze horas, uma guerra entre gangues eclodiu na região e provocou a execução de dois garotos de 15 anos, durante a madrugada de ontem, e a morte de um dos supostos executores horas mais tarde, como sinal de vingança. Segundo o delegado responsável pela investigações, Antônio Simião, da Delegacia de Homicídios, não há um motivo determinado para as mortes, pois naquela área, dominada por várias gangues, qualquer pequeno entrevero ganha grandes proporções e termina em assassinato.

Nesta intensa disputa, um dos considerados líderes de uma das gangues da região foi morto. Alessandro Alves da Costa Morais, 22 anos, (identidade não confirmada oficialmente), mais conhecido por “Dei”, foi assassinato com pelo menos sete disparos de pistola, como retaliação à morte dos garotos de facção rival, ocorrida horas antes. Alessandro seria um dos comandantes da “Gangue dos Dei”, acusada de ser responsável por inúmeros homicídios que aconteceram no Cajuru nos últimos anos.

Execução

Os ânimos entre integrantes de duas gangues rivais começaram a se acirrar a partir das 0h30 de ontem, quando dois adolescentes – Diogo Leandro Gonçalves 15 anos, e outro garoto identificado apenas como Pedro Henrique Melo, 15, vulgo “Lisa”, foram executados a tiros. A presença inesperada da Polícia Militar evitou que uma chacina fosse concretizada no local, pois mais dois jovens estavam marcados para morrer.

Dois soldados do 13.º Batalhão da PM, que faziam ronda na região, escutaram os disparos vindos da linha férrea, na esquina nas ruas Leodoro Ferreira de Castro e Liberato Evangelista. A viatura se aproximou e afugentou os dois autores, que correram e não foram detidos. Uma das bicicletas usadas pelos assassinos foi abandonada nas proximidades.

As quatro vítimas haviam sido colocadas de joelhos junto aos trilhos. Diogo levou três tiros, na cabeça, peito e pescoço, e Pedro, apavorado, tentou correr, mas foi baleado na cabeça e barriga. Os dois morreram na hora, e o corpo de Diogo teve que ser retirado rapidamente dos trilhos, pois o trem passou logo em seguida.

Os sobreviventes, um de 21 e outro de 13 anos, contaram aos policiais que foram abordados pelos dois homens encapuzados momentos antes. Os quatro rapazes receberam ordem para caminhar até a linha férrea e foram avisados de antemão que todos iriam morrer.

Investigação

O delegado Antônio Simião acredita que o duplo assassinato foi fruto de briga entre gangues. Grupos rivais das vilas Camargo, Vila São Domingos e Centenário andam num ambiente de guerra. Em dezembro, Tiago Rodrigues, membro da gangue da Vila Camargo, foi morto a tiros e um bando rival soltou foguetes em comemoração. “Creio que os crimes estejam interligados”, disse o delegado, sem descartar a hipótese de disputa por pontos de tráfico de drogas estar por trás das execuções.

As duas testemunhas oculares são peças-chave na investigação. “Vamos localizá-las e ouvi-las, assim como outras pessoas que estiverem dispostas a falar. Quando tivermos os nomes dos suspeitos, pediremos a prisão cautelar”, disse o delegado.

Vingança veio com 7 tiros

No início da tarde, quando uma equipe da Delegacia de Homicídios se preparava para voltar à vila para dar continuidade às investigações, um novo alerta de assassinato na região chegou ao conhecimento das autoridades. Na Rua Oscar da Costa, distante uma quadra do local das execuções, o corpo de outro jovem estava estirado. Em pleno horário de almoço, a vítima, identificada como Alessandro Alves da Costa Morais, 22 anos, mais conhecido como “Dei”, foi alvejada com no mínimo sete disparos e morreu em frente a uma residência. Segundo comentários na área, ele estaria fugindo, em companhia de mais um colega que conseguiu escapar, de seus algozes. O motivo de sua morte seria vingança, pois “Dei” teria participado da execução dos dois adolescentes no início da madrugada. “Ele era um suposto autor das mortes que aconteceram na madrugada”, afirmou o delegado Simião.

Conforme informações do perito Adilson, da Polícia Científica, foram encontradas sete perfurações de bala calibre 380 no corpo da vítima. “Dei” foi atingido por dois tiros à queima-roupa no rosto, dois nas costas, e mais três na coxa direita, mão esquerda e nuca.

Nos bolsos da vítima, a perícia encontrou uma pequena Bíblia e 143 reais. O delegado contou que, conforme as informações repassadas, “Dei” estava com uma arma quando foi alvejado, mas ela foi levada provavelmente pelos autores do crime. “Deste segundo homicídio não temos muitas pistas. Ninguém quer se envolver porque teme pela própria vida. É a “lei do silêncio””, explicou Simião. “Sabemos apenas que houve uma troca de tiros antes de encontrarem o corpo”, complementou.

Velório

Algumas informações colhidas no local dão conta de que a confusão que resultou na morte de “Dei” teria começado durante o velório de um dos adolescentes mortos na madrugada. “Dei”, que era apontado como um dos autores das mortes, compareceu ao velório acompanhado de um colega, provavelmente como forma de intimidação.

Essa atitude teria despertado a ira de alguns integrantes de uma gangue rival, a “Gangue dos Tucanos”, segundo a polícia. Ao término da cerimônia, “Dei” e seu colega foram perseguidos e ele morto com vários disparos.

O delegado Simião disse para os moradores da região que mantenham a calma e não tentem promover justiça com as próprias mãos. “A polícia está trabalhando e temos certeza que vamos prender os responsáveis pelas mortes. Não há necessidade de tanta violência, como está acontecendo”, ressaltou o policial.

Quem tiver informações que possam ajudar a polícia a elucidar os assassinatos ocorridos na Vila Camargo pode entrar em contato com a Delegacia de Homicídios pelo telefone 323-6640. Não há necessidade de se identificar.

Medo faz moradores mudar

A onda de violência que teve início na Vila Camargo durante a madrugada de ontem, já está provocando a saída de alguns moradores, que demonstram medo de permanecer por lá. Assustados, parentes de Diogo, um dos garotos executados, aproveitaram a presença da Polícia Militar na vila durante o período da tarde e resolveram se mudar. Juntaram seus pertences, colocaram num caminhão e partiram. Eles disseram à polícia que estavam sendo ameaçados.

Sobre a morte do garoto, os parentes afirmaram não saber o que motivou o assassinato. Diogo viveu durante sete anos em Paranaguá e há dois meses mudou-se para o Cajuru, em busca de emprego. Segundo o tio, Gilberto, e um primo que não quis se identificar, Diogo nunca reclamou de inimizades nem teve passagem pela polícia. “Falei com ele domingo. Estava contente e não queixou-se de nada”, disse o tio. A família acredita que o jovem foi morto por queima de arquivo e que o alvo dos assassinos era algum dos outros rapazes.

Gangue apavora o bairro

A “gangue dos Dei” é investigada há muito tempo pela polícia, pois contra seus integrantes pesam diversas acusações de assassinatos e furtos na região do Cajuru. De acordo com o delegado Antônio Simião, um dos últimos crimes praticados pelo bando aconteceu no dia 31 de dezembro do ano passado. Adir de Lima Cândido, 47 anos, foi alvejado por três disparos quando estava dentro de um buggy na Rua Presidente Cordeiro, Jardim Acrópole, Cajuru, às 18h50. A vítima morreu três horas mais tarde no hospital. De acordo com o delegado, um dos suspeitos de ter cometido o crime foi Alessandro Alves da Costa Moraes, o “Dei”. “Ele teria sido contratado por outra pessoa para matar Adir. Foi um crime encomendado”, ressaltou o delegado.

Segundo as investigações realizadas pela Delegacia de Homicídios, “Dei” foi procurado por uma pessoa que pediu para ele cometer o crime, mas na ocasião ele teria dito “que não matava homem trabalhador”.

Simião continua as investigações desse caso para determinar o mandante do assassinato.

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