Como uma família foi destruída pelos traficantes

Sete anos depois de ter um de seus filhos assassinado, Maria da Conceição Félix de Godoi, 58 anos, passou ontem novamente, pela mesma experiência. Desta vez, foi seu caçula, Vanderlei Félix de Godoi, 30, que a deixou. ?O que vou fazer agora?, dizia, rezando junto ao corpo, caído na Rua Antenor de Souza, Vila Barrinhas, Cajuru. O homem foi morto com tiros na cabeça, por volta das 22h30 de terça-feira. A hipótese provável para o homicídio é o envolvimento com drogas.

?Queria poder fazer ele viver de novo, não importavam seus defeitos, pelo menos tinha alguém?, lamentava Maria, que agora ficou sozinha. Ela morava com a mãe e os dois filhos, a poucas quadras de onde Vanderlei foi morto. Há sete anos, Gervásio Félix de Godoi foi assassinado, também no Cajuru. ?Arrancaram as orelhas e os dentes dele. Até hoje não sei quem o matou. Ninguém veio me contar?, relatou. A mãe de Maria, então com pouco mais de 100 anos, tinha quebrado a coluna em uma queda e ficou três anos de cama. Um ano depois da morte do primeiro filho, Vanderlei foi baleado e ficou paraplégico. ?Cuidava dos dois: ela na cama, ele na cadeira de rodas?, lembrou.

Drogas

Para a mulher, que vive com o dinheiro da venda de um terreno, foram as drogas que levaram seu filho à morte. Vanderlei constumava ajudar em casa, mas a situação se inverteu depois que ele passou a consumir entorpecentes, quando tinha entre 18 e 19 anos. ?Sempre tinha que pagar as dívidas dele. Alguns se aproveitavam e iam lá em casa, dizendo que meu filho estava devendo. Eu pagava R$ 30,00, R$ 20,00, cada vez?, disse. Na noite em que foi morto, Vanderlei iria se encontrar com traficantes, para quem devia, apesar de sua mãe pedir que não fosse.

Há poucos meses, Maria teve de pagar R$ 2 mil para o advogado libertar seu filho da cadeia do 7.º Distrito Policial (Vila Hauer), conforme contou. ?Se você gosta de mim como filho, me ajude!?, teria implorado à mãe. Maria deu um jeito e conseguiu o dinheiro. ?Pelo menos eu tinha alguém?, concluiu. A justificativa de Vanderlei para Maria foi de um processo por roubo cometido quando tinha 16 anos e que teria sido ?reaberto?.

?Manquinho?

Os soldados Reinaldo e Simões, do Regimento de Polícia Montada, RPMont, chegaram ao local chamados por populares, enquanto patrulhavam a área, que conhecem há cerca de 20 anos. ?Tivemos várias solicitações de assaltos que seriam cometidos por um rapaz, a quem chamavam Manquinho?, relatou Reinaldo. Desde que foi baleado, Vanderlei tinha dificuldades em andar e estava aposentado. Não foi confirmado se ele tinha envolvimento com assaltos. ?A gente conhece esses meninos, mas não acompanha o crescimento deles em todas as etapas. Às vezes, só os reencontramos assim?, completou Reinaldo, apontando o corpo na rua.

Um homem, que não quis se identificar, estabeleceu a ligação entre o assassinato de Vanderlei com o de um rapaz identificado como Rodrigo Santos Oliveira, 21, ocorrido no dia anterior. ?Mataram um lá, e agora vieram aqui e ?acertaram? o primeiro que apareceu na rua?, disse, aventando a hipótese de briga entre gangues.

Investigações

O superintendente Miguel Gumiero, da Delegacia de Homicídios, informou que foi apurado que Vanderlei tinha saído da cadeia, no dia 25 de fevereiro, onde estava preso por furto. Gumiero acredita que o assassinato esteja ligado ao tráfico de drogas, mas não afasta outras hipóteses que poderão surgir no decorrer das investigações. ?Ainda sabemos muito pouco. No local predomina a lei do silêncio. O pessoal não fala nada?, lamentou o policial. Ele solicitou às pessoas que tiverem qualquer informação que possa ajudar na identificação do autor entre em contato com a DH através do telefone 262-2641.

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