Começa a ser elucidado o mistério de 3 assassinatos

Como se fosse um intrincado roteiro de filme policial, daqueles em que os verdadeiros bandidos só são conhecidos instantes antes da cena final, a investigação iniciada pelo 6.º Distrito Policial (Vila Oficinas) para apurar a denúncia de que empresas legalmente constituídas em Curitiba estavam se prestando apenas para fornecimento de notas fiscais falsas – para fins de contabilidade – poderá resultar no esclarecimento real de pelo menos três assassinatos ocorridos em Curitiba e que abalaram a opinião pública. Um deles é o do policial civil Antônio Roberto Spósito, morto com vários tiros em janeiro de 1994. O outro, acontecido em maio de 1993, é o de um guardião Norberto Vieira, o “Português”, – que trabalhava como segurança de uma agência de turismo pertencente a filha do advogado Antônio Pelizzetti, um dos grandes amigos de Spósito. E, por fim, o do bicheiro Almir José Solarewicz, 45, acontecido no ano passado.

O delegado Gerson Machado libera poucas informações a respeito do inquérito mas garante que as mortes de Spósito e de “Português” têm relação uma com a outra. Já a do bicheiro seria um caso à parte, motivado pela briga entre facções que queriam dominar não só o jogo do bicho em Curitiba mas também o uso de máquinas caça-níqueis. O Ministério Público já se interessou pelas novas informações e pediu o inquérito, que está sendo remetido à 5.ª Vara Criminal, para ser analisado. Ainda ontem o promotor Mário José Esbalqueiro afirmou que se estiverem surgindo novidades relevantes no novo inquérito, como novos suspeitos ou acusados, os documentos serão aditados na denúncia anterior e outras investigações serão requeridas.

O que poderá atrapalhar um pouco o andamento das diligências são as férias forenses, agora no mês de julho. Mesmo assim, o que surgir de novo na investigação da morte de Almir terá prosseguimento com um promotor especialmente designado para cobrir férias, já que neste caso há um acusado preso, justamente Otaviano Sérgio Carvalho de Macedo, o “Serginho”, que teria ligações muito próximas com outro bicheiro curitibano, conhecido por Chico Feitosa. A mulher de Almir, Ivana Vasconcellos, em depoimento prestado no dia 18 de junho último, no 6.º Distrito, acusou Feitosa de ser o mandante da morte de seu marido, revelando que os dois brigavam não só por causa do jogo do bicho, mas também para dominar o comércio das máquinas de caça-níqueis.

Esta foi a primeira vez que Ivana “abriu o jogo” com a polícia, pois antes se sentia ameaçada. Ela e o restante da família teriam sido obrigados a deixar o Brasil, ameaçados por bicheiros.

Prisão

Na verdade, “Serginho” foi o único preso pelo assassinato de Almir, embora desde a noite do crime testemunhas tenham assegurado que dois homens atiraram contra a vítima várias vezes. A Delegacia de Homicídios, responsável pelas investigações, contentou-se em apurar somente o nome dele, pedir sua prisão e encerrou o caso. Ele tinha conseguido fugir para os Estados Unidos e embora estivesse vivendo em Orlando (onde estão os parques da Disney), resolveu voltar para Curitiba em maio e acabou preso no apartamento da irmã, no Juvevê. O que ele veio fazer no Brasil, – sabendo que era procurado até pela Interpol -, não se sabe. Alguns boatos davam conta de que teria vindo pedir mais dinheiro ao bicheiro que encomendou a morte de Almir.

A história começa a ficar cada vez mais confusa quando a polícia afirma que “Serginho” também participou do assassinato de Spósito, há oito anos. Ele e José Luís Carvalho Macedo, Luiz Antônio Barbosa e Carlos Ronald Monteiro de Queiroz teriam executado o policial meses depois de matarem o guardião da agência de turismo. Estes dois crimes estariam ligados ao tráfico de drogas. Fala-se que existiam quatro quilos de cocaína guardados no cofre da agência e que o investigador mandou os cúmplices simularem um assalto e roubarem a droga. No entanto, acabaram matando o vigia. Mais tarde executaram Spósito por motivos até hoje nunca esclarecidos.

A estranheza da situação aumentou quando a própria polícia se desinteressou em investigar melhor o crime, prender os responsáveis e apurar os verdadeiro motivos de tanta violência. Nem mesmo os familiares do policial protestaram pela falta de eficiência da Polícia Civil no caso. Todos se calaram. O policial Spósito há “mil por hora”, sempre fortemente armado, era proprietário de uma academia de artes marciais e defesa pessoal (da qual se orgulhava muito), de um posto de combustíveis, e gostava de contar sobre as viagens que fazia quinzenalmente para Punta del Leste, no Uruguai.

O mesmo estranho silêncio surgiu após a morte de Almir, que só está sendo reinvestigada por mero acaso e porque a viúva achou por bem “dar nomes aos bois”. No entanto, os próprios policiais lamentam ter se envolvido nesta tão intrincada trama e alguns não hesitam em dizer que preferiam estar fora “de tamanha confusão”.

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