Caso Evandro: exibição de provas

A tranqüilidade que vem predominando desde segunda-feira no Tribunal do Júri de Curitiba, quando teve início o julgamento de Osvaldo Marcineiro, Vicente de Paula Ferreira e Davi dos Santos Soares, tende a ser abalada nos próximos dias. Como na maioria dos juris de grande repercussão, os debates entre acusação e defesa prometem ser fervorosos, já que nos bastidores do julgamento as alfinetadas são visíveis. Ontem, os trabalhos entraram na fase de apresentação de provas, depois de extensa leitura de cerca de 400 páginas do processo. Vídeos, peças de barro, recortes de jornais da época foram exibidos aos jurados.

Uma das imagens exibidas ontem pela acusação, mostra Beatriz Abagge chorando de forma convulsiva ao ser interrogada sobre a morte do garoto Evandro Ramos Caetano – crime ocorrido há 12 anos, em Guaratuba. O advogado de defesa, Álvaro Borges Júnior, alega que ela teria tido o braço torcido no momento da gravação. Já o promotor Paulo Sérgio Markowicz de Lima afirma que cada jurado irá analisar e tirar a própria conclusão das imagens, “mas que Beatriz chora de arrependimento, já que não há comprovação de tortura”.

Durante a exibição dos vídeos também foi mostrado o momento em que a polícia arromba a oratória, que teria sido construída na serralheria de Aldo Abagge, para guardar as mãos, orelhas, dedos e vísceras de Evandro. Quando aberta, havia apenas uma vela de sete dias em seu interior. “A tigela de barro (alguidar) não caberia ali dentro e todos viram que o recipiente não estava lá quando a portinhola foi aberta”, disse o outro advogado de defesa, Haroldo César Nater. O promotor contesta: “O local foi aberto pelas autoridades 85 dias depois do crime, enquanto isso os acusados pintaram e bordaram, e com certeza tiraram tudo o que tinha lá dentro”.

Argumentos

Entre os argumentos da defesa consta que os réus só confessaram o crime porque foram torturados e que o material para os exames de DNA foi colhido de maneira imprópria. Já a acusação afirma que os laudos de lesões corporais são negativos, que as torturas não ocorreram e que foi um lapso os jurados que atuaram no julgamento de Celina e Beatriz Abagge (apontadas como mandantes do crime) terem desconsiderado os exames de genética. Por fim, o promotor argumenta que se realmente todos os acusados foram torturados, todos deveriam ter confessado o crime. “Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli disseram que foram torturados e continuaram negando participação no assassinato do garoto. Qualquer pessoa que é torturada acaba confessando, portanto há uma contradição nos depoimentos”, finalizou o promotor.

Imagens da época atraíram a atenção de curiosos

A apresentação de fitas de vídeo com imagens sobre o caso Evandro Ramos Caetano, supostamente assassinado em um ritual de magia negra, em abril de 1992, levou mais de 80 pessoas ao Tribunal do Júri na tarde de ontem. A leitura das peças do processo foi concluída pela manhã e os vídeos começaram a ser exibidos às 13h30.

O Ministério Público selecionou seis fitas com conteúdos que mostram desde imagens da reconstituição do crime, confissão dos acusados, a cobertura da imprensa na época. Já a defesa contou com sete fitas que apontam que os acusados foram torturados e que indicam a impossibilidade do crime. Além disso, os advogados contestaram o modo como a investigação é feita no Brasil e também mostraram imagens relacionadas ao tema. Algumas fitas foram usadas tanto pela acusação quanto pela defesa. “Utilizamos as mesmas imagens para mostrar um outro ângulo delas. As fitas foram levadas para perícia, que comprovou que, em alguns casos, alguém ditava o que os acusados tinham que falar”, alegou o advogado de devesa Haroldo César Nater.

Testemunhas

A previsão é que hoje acabe a exposição das imagens e que as testemunhas comecem a ser ouvidas no Tribunal. Os debates devem iniciar na sexta-feira. Para cada réu, os advogados selecionaram três testemunhas, totalizando nove pessoas. Já a acusação conta com cinco.

São testemunhas de defesa: o ex-diretor do Instituto Médico Legal, Francisco Moraes; o ex-delegado geral da Polícia Civil, Adauto Abreu de Oliveira, na época chefe do Grupo Tigre; a delegada Leila Bertoline, na época mulher de Adauto; o policial do Grupo Tigre, Rogério Penkai; as acusadas Celina e Beatriz Abagge; o delegado Luiz Carlos de Oliveira; o perito do Instituto Médico Legal Artur Drischel, que periciou o corpo encontrado; o juiz de direito Francisco Luiz Júnior e a integrante do Conselho da Condição Feminina, Isabel Cugler. Já o Ministério Público convocou como testemunhas de acusação a odontologista Beatriz Sotille França, que analisou a arcada dentária do corpo encontrado; o promotor de Justiça Carlos Roberto Dalcon; o então chefe do serviço reservado (P2) da Polícia Militar, coronel Neves (na época capitão); e mais Davina Pixels, uma testemunha que ainda deve confirmar presença.

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