Bandido teria proteção de órgãos policiais

Além de investigar o suposto envolvimento de policiais da Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas com o quadrilheiro Mário do Amaral Fogassa – apontado como um dos principais responsáveis pelo roubo de cargas no Estado – a Corregedoria da Polícia Civil deverá também pedir explicações ao Instituto de Identificação do Paraná e à Delegacia de Explosivos Armas e Munições (Deam), que teriam fornecido documentos irregulares ao suspeito. “Existem situações bastante estranhas em torno do nome deste indivíduo que estão resultando em quatro ou cinco procedimentos investigatórios diferentes”, disse ontem o corregedor-geral, delegado Adauto Abreu de Oliveira.

Mesmo com antecedentes criminais datados de 1992, quando teria iniciado suas atividades ilícitas roubando caminhões para depois devolvê-los aos proprietários mediante o pagamento de uma espécie de “resgate”, Fogassa conseguiu o porte e o registro de uma arma em 2000, expedidos pela Deam. Ele também é portador de três carteiras de identidade com números diferentes, emitidas pelo Instituto de Identificação. E ainda, durante uma busca realizada pela Promotoria de Investigação Criminal (PIC), num dos imóveis do acusado, foi encontrada uma carabina pertencente à Polícia Civil. “Isso tudo é muito suspeito e necessita de diligências apuradas”, salientou Oliveira.

Denúncia

O “QG” de Fogassa era uma chácara no município de Campo do Tenente, onde os caminhões roubados eram guardados até suas cargas serem transferidas para outros locais. Um vereador da cidade, Divonzir Rodrigues, descobriu a trama e ameaçou denunciar os fatos às autoridades. Porém foi assassinado a tiros no bar de sua propriedade, num suposto assalto praticado por dois fugitivos da cadeia local, em março passado. O delegado “calça-curta” Alécio José Lemos concluiu o caso como se fosse latrocínio.

Os parentes do vereador, inconformados com sua morte, recorreram ao Ministério Público e pediram novas investigações à promotora Marla de Freitas Blanchet, de Rio Negro (comarca responsável por Campo do Tenente). Em pouco tempo a promotora levantou vários fatos novos e conseguiu, com autorização da Justiça, “grampear” telefones de suspeitos de envolvimento com a quadrilha de Fogassa. Através das gravações dos telefonemas, foram levantados os nomes de 26 pessoas suspeitas de integrar a gangue. Entre eles constavam os dois delegados da Estelionato – Armando Marques Garcia e Margareth Motta – e o superintendente da especializada, Hélcio Piasseta. Os três policiais foram acusados pelo MP de pedir propina (R$ 50 mil) para liberar duas cargas tomadas em assalto pelos quadrilheiros.

Todas estas pessoas foram denunciadas pela promotora ao juiz de Rio Negro, Hélio César Engelhardt, que decretou as prisões preventivas de 21 suspeitos, inclusive dos três policiais. Nas fitas gravadas foram também citados os nomes do secretário da Segurança Pública, José Tavares, e do delegado-geral da Polícia Civil, Leonyl Ribeiro, que anteontem negaram terminantemente qualquer relacionamento com Fogassa ou interferência para que suas atividades ilícitas fossem facilitadas.

Habeas-corpus

O delegado Armando Garcia e o superintendente Hélcio Piasseta foram presos na sexta-feira passada, na própria delegacia onde trabalhavam. A delegada Margareth Motta estava fazendo um curso em Florianópolis e avisada por colegas do que estava acontecendo conseguiu fugir. Ontem ela fez contato telefônico com o corregedor-geral, Adauto Oliveira, dizendo que irá se apresentar nos próximos dias. “Ela está mais calma agora e disse que vai me telefonar amanhã, para informar o que decidiu fazer”, contou Oliveira.

O advogado Antônio Figueiredo Basto, defensor de Garcia, entrou ontem com um pedido de habeas-corpus para o policial, argumentando que as fitas com conversas gravadas obtidas pelo Ministério Público não têm nenhum valor legal, uma vez que foram degravadas por um policial militar da PIC e não por um perito da Polícia Científica. “Também não há nada nas gravações que acuse o delegado. Ele sequer presidia o inquérito existente na delegacia contra Fogassa”, explicou o defensor. É possível que o resultado do pedido de liberdade de Garcia saia ainda hoje.

Armas guardadas na chácara

As investigações para desarticular toda a quadrilha de Mário do Amaral Fogassa continuam sendo feitas sob o comando do juiz e da promotora de Rio Negro – Hélio César Engelhardt e Marla Blanchet – com o apoio do grupo especial de policiais civis e militares da Promotoria de Investigações Policiais e da Companhia de Choque. Na segunda-feira foram expedidos mandados de busca e apreensão para revistas em três chácaras de Mandirituba – supostamente pertencentes a indivíduos ligados à quadrilha – onde foram apreendidas armas, sendo dois revólveres, duas garruchas, quatro espingardas e uma carabina com silenciador, calibre 22. As armas foram levadas para o Fórum de Rio Negro.

Também estão sendo intensificadas as buscas aos foragidos, principalmente a Fogassa. Além dele são procurados Solange Esmeralda Martins, Carlos Biazzoto Vieira, Jorge Valdir Alves de Melo, Alécio José Lemos, Ezequiel Schivitaiky, e a delegada Margareth Motta.

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