Baleado morre após não ser atendido em hospital

Um dos passageiros de um ônibus da linha Curitiba-Piraquara foi baleado no peito depois de reagir a um assalto dentro do veículo, na noite de quarta-feira. O motorista do ônibus ainda tentou levar José Laudelino de Lima, 25 anos, para ser atendido no Hospital e Maternidade de Pinhais, o pronto-socorro mais próximo do local do crime. Mas a vítima não recebeu atendimento médico e morreu.

De acordo com os passageiros, os funcionários de plantão informaram que o hospital é particular e que o atendimento não poderia ser realizado. O delegado de Pinhais em exercício, Noel Francisco da Silva, explica que a omissão de socorro consta no boletim da Polícia Militar. “Os policiais descrevem que a vítima chegou com vida no hospital. Quando o procedimento foi recusado, a médica de plantão levou uma bronca dos policiais. Mesmo assim, o atendimento não foi prestado.”

Explicação

O diretor do Hospital e Maternidade de Pinhais compareceu ontem à tarde na delegacia da cidade. Segundo o delegado, o responsável pelo estabelecimento comentou que “a médica estava atendendo outras duas pessoas e que não teria condições de atender a uma terceira”.

Nenhum responsável pelo hospital quis dar esclarecimentos sobre o assunto. A direção somente emitiu um comunicado informando que os fatos serão averiguados para apurar se houve falha no atendimento.

A plantonista já foi notificada e prestará depoimento hoje, às 10 horas. Logo depois disto, uma audiência será marcada no juizado especial. O Código Penal prevê pena de dois anos para omissão de socorro, mas ela poderá ser revertida para pena alternativa.

O Conselho Regional de Medicina (CRM), por meio da assessoria de imprensa, divulgou que prestar atendimentos emergenciais está no código de ética da profissão. O conselho ainda vai receber a denúncia para, depois, abrir sindicância e julgar o caso. O departamento jurídico não vai se pronunciar sobre o assunto por enquanto. A punição imposta pelo CRM para omissão de socorro varia de advertência até cassação do diploma.

Vítima não se intimidou com tiro para o chão e reagiu

A viagem dos cerca de 30 passageiros que iam para Piraquara parecia normal, até que dois deles se levantaram e anunciaram o assalto, mandando todos entregarem seus pertences. José de Lima não obedeceu nem se intimidou com o tiro dado no chão. Ao partir para cima de um dos assaltantes o rapaz foi baleado no peito.

Os bandidos entraram no ônibus na Praça Santos Andrade e foram sentados, um antes da roleta e outro em um banco dos fundos. Falavam pelo celular, conforme relato do cobrador, provavelmente combinando o momento certo de agir. Eram cerca de 22h10, quando levantaram e o que estava na frente, armado com um revólver, anunciou o assalto. “Tá surdo!”, disse ao motorista que perguntou o que acontecia. Aos passageiros, ordenou que todos entregassem o que tinham de valor e o segundo marginal começou a “arrecadação”, enquanto o comparsa limpava o caixa.

Reação

De acordo com Wellington Luiz da Silva, uma das vítimas, eles ameaçavam todos com o revólver calibre 38. “Eles deixaram um dos passageiros sem a camisa e roubaram carteiras, celulares, relógios e mandavam as pessoas abrir mochilas para pegar peças de roupas”, relatou. Assustados, todos obedeciam até que os bandidos chegaram ao fundo do ônibus, onde José estava.

Ele olhava fixo para o assaltante, que ficou incomodado e disse para ele parar de encará-lo. Segundo testemunhas, José não se intimidou e levantou do assento. O bandido deu um passo atrás e atirou contra o chão. Nem isso fez José retroceder. O rapaz foi de encontro ao assaltante, que disparou um tiro no coração da vítima. Até esse desfecho trágico, o ônibus, andando devagar, percorrera cerca de três quilômetros pela Avenida João Leopoldo Jacomel (Rodovia do Encanamento), até próximo ao Carrefour. De lá os assaltantes fugiram carregando o que conseguiram roubar.

Suspeitos

O delegado Silva informou, ontem à tarde, que a polícia já tinha dois suspeitos identificados. “São dois jovens que vêm agindo da mesma maneira há três meses”, afirma. Os suspeitos têm antecedentes por assaltos, furtos e roubos. Eles serão enquadrados por latrocínio (roubo com morte). “É questão de pouco tempo para prendê-los”, prevê Silva, que ontem comandou algumas buscas aos suspeitos no Jardim Holandês, conhecido reduto de marginais.

De acordo com os passageiros, os assaltantes têm aproximadamente 1,70 m, são morenos-claros, com cabelos pretos e curtos e vestiam camisas laranjas e calças largas azuis.

Naquela região, assaltos a passageiros dos ônibus têm sido constantes. Conforme relato de um funcionário de tráfego da empresa Viação Piraquara, houve pelo menos duas situações de pessoas agredidas a coronhadas por assaltantes nas últimas semanas. O Sindicato dos Motoristas e Cobradores da Região Metropolitana de Curitiba comunicou que 192 assaltos a ônibus foram registrados na primeira quinzena do ano.

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