Assassinato de garota leva caos a Itaperuçu

Terra sem lei, de assassinos e usuários de drogas. Insegurança. Era justamente para acabar com essa imagem que moradores de Itaperuçu fariam um protesto, com panos pretos de luto estendidos por casas e comércios, na noite de sexta-feira, pelas ruas da cidade, pedindo mais polícia e segurança nas ruas. O protesto começou por volta das 19h30 nas ruas centrais, motivado pela morte da jovem Tayla Michele Agne de Faria, 15 anos, ocorrida às 14h15 de sexta-feira, num latrocínio (roubo com morte). Porém o que era para ser um protesto pacífico, acabou em quebradeira generalizada e saques a quatro órgãos públicos da cidade e a uma agência do Banco do Brasil, anexa à prefeitura.

De certa forma o protesto cumpriu seu objetivo, pois no final da noite, o município fervilhou de viaturas e policiais militares. E pelos próximos dias, de fato, a cidade promete ficar sem lei e sem ordem, com os principais órgãos públicos e de segurança parados para reformas.

Baderneiros aproveitaram a oportunidade do protesto para mostrar que, de fato, a cidade não tem autoridade para impor respeito. Primeiramente quebraram um módulo da Polícia Militar, de onde retiraram todos os móveis e os colocaram no meio das ruas, em chamas, para bloquear a passagem dos carros. Outras ruas foram bloqueadas com pedras, objetos em chamas e postes caídos. Pelo acesso principal de Itaperuçu ninguém chegava ou saía. Em seguida, a Câmara de Vereadores também foi apedrejada e a delegacia ?depenada? da mesma forma que o módulo da Polícia Militar, de onde diversos documentos foram estragados e objetos de valor, como computadores e outros equipamentos, roubados.

Flagrante

Por último, a prefeitura do município e uma agência do Banco do Brasil, anexa à prefeitura, sofreram a pior quebradeira de todas. Lá, a Tribuna flagrou, com exclusividade, a ação dos marginais, que não deixaram sequer um pedaço de vidro inteiro. Televisores, computadores, ventiladores e outros equipamentos foram levados das secretarias da prefeitura, e nem o gabinete do prefeito José de Castro França ficou inteiro. Um manifestante, utilizando um cacetete que roubou do módulo da PM, ainda tentou arrombar um cofre que guardava arrecadações em dinheiro do município.

Carros parados no pátio ao lado, incluindo vans e ambulâncias, tiveram quase todos os seus vidros quebrados e objetos levados de seu interior. Uma van, inclusive, foi jogada ladeira abaixo, e parou embicada no barranco.

Vândalos se aproveitam da situação

A agência do Banco do Brasil também foi quase totalmente destruída. Quase todos os computadores foram levados. Os marginais só não conseguiram levar dinheiro dos caixas eletrônicos porque os cofres não podem ser abertos com pauladas e chutes. Algumas câmeras de segurança do banco, que permaneceram inteiras e em suas posições originais, gravaram toda a ação dos vândalos.

No início do protesto, os policiais do módulo local chamaram reforço, e três viaturas circulavam pelo centro do município. Porém, intimidados com a multidão a sua frente, os policiais foram obrigadas a fugir do município, por volta das 22h, para que as viaturas não fossem depredadas. Exatamente às 22h55, diversas viaturas do 17.º Batalhão da PM, da Região Metropolitana, além da Polícia de Choque, de Curitiba, começaram a chegar à cidade.

Os policiais se distribuíram pelas ruas do município na tentativa de conter a ação dos vândalos. Nesse mesmo momento, os marginais saqueavam a prefeitura e o Banco do Brasil, onde os policiais chegaram em poucos minutos dando mais tiros para o alto. Às 23h45, três veículos do Centro de Operações Especiais (Cope), da Polícia Civil, chegaram à delegacia para permanecer durante a noite, protegendo o que restou do órgão público.

Polícia a conta-gotas

A guerra que se formou no centro de Itaperuçu dividiu a opinião dos moradores. Apesar de não concordarem com a quebradeira generalizada, realizada por um grupo de mais de 100 pessoas, a maioria jovens e adolescentes, muitos não deixavam a revolta de lado e diziam que tudo estava acontecendo porque a cidade não tem segurança suficiente. Com 25 mil habitantes, Itaperuçu possui apenas dois policiais por turno, para monitorar toda a cidade. O capitão Kister, comandante da Companhia de Polícia Militar da cidade, não quis dar declarações à imprensa. Outros policiais, que não quiseram se identificar, confirmaram a situação do efetivo local.

Imediatamente após o ocorrido, a Polícia Militar colocou na cidade viaturas da Rondas Ostensivas Tático Motorizadas (Rotam) e da Rondas Ostensivas de Naturezas Especiais (Rone). O coronel Sérgio Vendrametto, comandante do 17.º Batalhão, garantiu que o policiamento deve permanecer na cidade, e que na segunda-feira, um estudo deverá ser feito para analisar quais recursos a PM pode levar, de forma definitiva, a Itaperuçu.

O coronel ainda reforça que, mesmo antes de todo esse tumulto, o governo do Estado já tinha planos de incluir mais policiais na corporação.

A morte de Tayla num latrocínio, e o ato de vandalismo generalizado em Itaperuçu, aconteceram exatamente no aniversário de três anos de morte do comerciante Luiz Motim. Na época, o proprietário de uma lanchonete foi morto ao reagir a um assalto, quando fechava a lanchonete, e logo em seguida uma quebradeira tomou conta da cidade, semelhante à ocorrida na noite de sexta-feira, por revolta por causa da falta de segurança no município.

Quebradeira pode ser resultado de briga política

Em meio a toda confusão, algumas pessoas afirmaram que o quebra-quebra tinha fundo político. Um morador, que temendo retaliações, preferiu não ter seu nome divulgado, disse que a quebradeira foi ?encomendada? pelo ex-prefeito de Itaperuçu, Gentil Pasquim, com o intuito de prejudicar a atual gestão. Ele teria se aproveitado da situação do protesto para dar início à desordem. Já outros moradores rebateram a informação, acreditando que o vandalismo nada tinha a ver com política.

O prefeito de Itaperuçu, José de Castro França, não foi localizado pela reportagem da Tribuna para comentar o assunto. Pessoas ligadas à prefeitura comentaram que o prefeito se recolheu, com medo de retaliações dos moradores.

Medo e cautela no enterro

garota3031206.jpgEm meio ao clima de cautela e medo, familiares e amigos de Tayla (foto) velaram seu corpo na casa dos avós da adolescente, na Rua Alexandre de Gusmão, a poucas quadras de onde ocorreu o latrocínio. O corpo chegou ao local às 2h da madrugada de sábado. A irmã da jovem, que inicialmente era a vítima do assalto e presenciou a morte de Tayla, não saiu de perto do corpo de sua irmã. Tayla foi sepultada às 14h30 de sábado no Cemitério de Tranqueira.

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