Viva a Revolução!

Por mais fora de moda que soe o título acima, não há escapatória: só uma revolução estrutural, de forma e conteúdo, será capaz de tirar o Brasil e os brasileiros do pântano em que se meteu nos últimos 503 anos. Falo de educação. O jornalista Gilberto Dimenstein e o educador Rubem Alves mataram a charada do sistema educacional com o livro Fomos Maus Alunos, recém-lançado pela Editora Papirus. É a redenção da “turma do fundão”, para desespero dos professores herméticos e seus fiéis CDFs.

Profissionais brilhantes, colunistas de prestígio do maior jornal do País, os dois rememoram num diálogo informal, suas peripécias e admitem a mediocridade de seus históricos escolares. E atestam: “Os alunos mais CDFs nunca foram os melhores profissionais”. Não se trata de apologia à algazarra ou ode aos “gazeteiros”, mas de alerta sobre a incoerência na maneira como é transmitido o conhecimento no Brasil, particularmente nos ensinos médio e fundamental. E se apóia num princípio muito simples: a utilidade desse conhecimento para o aluno como indivíduo ou profissional.

Por exemplo: de que forma saber os afluentes da margem esquerda do Rio Amazonas me fará uma pessoa melhor? Só se eu for geólogo, geógrafo, garimpeiro ou trabalhar num órgão público, tipo “Superintendência dos Recursos Hídricos do Amazonas”. Ou se essa pergunta cair no Show do Milhão.

Isso falando de Geografia. Nesta seara, creio que os alunos devam conhecer as características geográficas (relevo, vegetação, hidrografia, clima, população, atividades econômicas, divisão política, capitais) da região e do país em que vivem, e noções básicas dos dados de algumas regiões do mundo. Nada de imprimir no cérebro que Mogadíscio é a capital da Somália, ou que 90% da população do Butão vive da agricultura. Para isso existe o Almanaque Abril.

O ensino de História tem como ser bem atraente. Basta deixar em segundo plano a profusão de datas e nomes e investir nos acontecimentos e personagens, contar histórias, relatar fatos pitorescos, aventuras, deslizes, sempre aguçando o espírito crítico. Desmitificar heróis, destrinchar vilões, esquadrinhar feitos.

Matérias mais “espinhosas”, como Matemática, Física, Química e até a Biologia, sempre que possível, deveriam obrigatoriamente ser demonstradas de forma prática, ou no método “aplicado”. De que serve decorar a tabela periódica, reproduzir intrincadas ligações químicas “no papel”, gravar fórmulas matemáticas abstratas ou saber o nome das células reprodutoras das orquídeas?

Língua Portuguesa? Perfilo-me com Alves e Dimenstein na defesa do banimento da análise sintática, morfológica, e de toda a decoreba que aterroriza os alunos da disciplina, afastando-os da escrita e da leitura. As aulas de Literatura também não podem ser um fardo, uma reprodução mecânica de resumos malfeitos e tendenciosos. Num mundo ideal, os professores deveriam agir como o personagem de Robin Williams em Sociedade dos Poetas Mortos: vibrar com os textos, estimular escolhas, exibir enfim, o fascinante universo das letras.

Só sei que, do jeito que está, os alunos vão continuar usando a inteligência e a criatividade para burlar a vigilância dos professores e elaborar colas complicadíssimas. Porque perde-se menos tempo procurando as informações no Google…

Luigi Poniwass (almanaque@parana-online.com.br) é editor de Almanaque em O Estado

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