Vilegiatura amazônica

O ministro de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e professor emérito da Universidade de Harvard (EUA), Roberto Mangabeira Unger, finalmente quebrou o mutismo que o amordaçava desde a posse. Tirante a erudição acadêmica e o sotaque adquirido nos longos anos de permanência nos Estados Unidos (é filho de mãe brasileira e pai norte-americano), o professor é também afamado pela capacidade de semear idéias polêmicas e de difícil inserção na realidade.

Aliás, não foi outra a reação de Mangabeira Unger, diante dos questionamentos levantados pelos jornalistas que cobriram seu recente deslocamento à região amazônica, à frente de uma comitiva de 35 pessoas, quanto aos óbices estruturais à execução da maioria das idéias lançadas ao vento.

Mangabeira afirmou que não é de seu feitio tratar problemas sérios de forma blandiciosa, passando açúcar ou usando anestésicos: ?Prefiro ser imprudente a ser evasivo?. E nessa toada, o gestor de planos, cenários e simulações estratégicos do atual governo deitou falação sobre a futura construção de um aqueduto para transportar água do Rio Amazonas para o semi-árido nordestino, além de estímulos à industrialização da Zona Franca de Manaus, cursos de fixação do homem na atividade rural e ocupação das áreas desmatadas por agricultores familiares.

Os cientistas, técnicos e políticos que estudam ou têm interesse na problemática da floresta amazônica, de imediato apontaram uma falha gritante nas elucubrações do futurólogo oficial do governo Lula. A maioria das sugestões apresentadas nos quatro dias da vilegiatura amazônica já está contemplada no planejamento dos governadores da região ou do próprio governo federal.

Para os especialistas em foco, no entanto, as sugestões de Mangabeira foram descartadas e até ridicularizadas, como a proposta de educar os silvícolas em mais de uma língua. Experimentado sertanista lembrou os inúmeros programas de educação bilíngüe aplicados há várias décadas. Além disso, enfatizou, a maior parte das tribos, além do próprio idioma se faz entender também em português.

Uma das sugestões, o estímulo ao desenvolvimento industrial da Zona Franca chegou a causar risos, tendo em vista que desde o governo Castelo Branco se fala do assunto. Para um estrategista preocupado com o futuro, será muito difícil convencer a platéia de como se apossou de proposta apresentada há mais de 40 anos. A ministra Marina Silva, convidada a fazer parte da comitiva alegou compromissos e preferiu ficar em casa. Não sabe o que perdeu.

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