Vaca amarela

Confiança não se impõe. Conquista-se. Assim, não há como obrigarmos o mercado financeiro a acreditar no Brasil de hoje e do futuro governo. E ele desconfia, quando vislumbra a possibilidade de eleição de um oposicionista. Isso porque a administração FHC está comprometida com o mercado, seja interno ou externo, administrando com sintonia fina a dívida pública e a solvabilidade da dívida privada. Dívidas que são gigantescas, administráveis na medida em que exista o componente confiança por parte dos credores e quem quer que possa nos financiar. Na hora em que o mercado desconfia que um novo governo poderá mudar as regras do jogo e, de propósito ou obrigado pelas novas regras que vier a adotar, parar de pagar as dívidas, fecham-se as torneiras. Desde já reduz o afluxo de recursos para o Brasil e, no próprio País, para o sistema financeiro que absorve títulos públicos. Conseqüência: vamos sentindo, desde logo, dificuldades que podem se agravar até as eleições e explodir, após elas, dependendo de quem ganhe.

O mercado tomaria uma dose de maracujina se as pesquisas começassem a mostrar José Serra como o candidato da preferência do eleitorado. Serra é afinado com o atual governo e, embora com algumas posições discordantes de sua área econômica, ainda parece, para o mercado, o mais capaz de seguir as atuais diretrizes da política econômico-financeira. Os candidatos oposicionistas, provocados, afinal decidiram começar a fazer declarações de compromissos com o mercado. Alguma coisa como “faremos, salvo se” ou “faremos, mas apenas por algum tempo”. Sempre deixando alguns senões que alimentam as dúvidas, a começar pelo passado político de cada um e de seus partidos.

Tais declarações de Lula, Ciro e Garotinho, somadas às providências e declarações do governo, não bastaram para trazer a bonança, depois da tempestade. Teremos, ao que tudo indica, de resistir até o pleito. E afundar ou flutuar, depois dele, conforme os resultados revelados pelas urnas e o comportamento do vitorioso. Precisamos, doravante, medir palavras e atos, para não agravar a situação. As palavras de Lula, Garotinho, Ciro e também FHC, Serra e a equipe econômica do governo. O mercado, assustado, interpreta contra o Brasil qualquer coisa que lhe pareça duvidosa. Qualquer expressão que possa conter algo nas entrelinhas.

O governo insiste que é capaz de administrar a crise e que são sólidos os fundamentos da economia brasileira. Acontece que tudo se desmancha no ar e o que é sólido hoje, amanhã poderá escorregar água abaixo. FHC, ingenuamente, chegou a dizer, uma vez, que se o Brasil fosse mal administrado poderia chegar a uma situação como a da Argentina. Bastou para interpretarem que fizera um prognóstico negativo sobre o País. O melhor que se poderia fazer, no momento, seria divulgar um documento conjunto, assinado por todos os candidatos, prometendo respeitar compromissos assumidos, para tranqüilizar o mercado. Como a tanto não irão os candidatos, pois transferir a culpa uns para outros dá mais votos, a saída é um jogo de “vaca amarela”. Quem não tiver uma palavra para ajudar o Brasil nesta crise, que cale a boca. Que nada diga que possa ser interpretado de forma negativa.

A verborragia é um vício que precisamos conter. É hora de desmentir, com fatos, ou seja, uma mais rígida administração das finanças, para calar os nossos detratores. E quem falar, come toda a …

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