Um novo governo

O governo do PT está acabando. Teremos um governo de coalizão. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca reaglutinar e ampliar as forças que apóiam sua administração e eliminar a fragilidade de suas bases originais. O partido de Lula disputou as eleições presidenciais sozinho e, apesar da importância que sempre pareceu ter a militância, vitorioso foi o candidato, com seu carisma, seu passado de lutas e sua prodigalidade em promessas ao povo. Desde o início, e para ganhar confiança, ou pelo menos diminuir a desconfiança das forças mais conservadoras, teve como aliado o PL, ao qual ofereceu a vice-governança. Essa mistura estranha entre água e azeite nunca se deu por completo. Mas um partido liberal, de centro-direita, que nenhuma expressão tinha no País, de repente passou a partilhar o governo e ter um homem de seus quadros, o senador mineiro José Alencar, como vice-presidente.

Os demais foram apoios de partidos perdedores das eleições, como o PPS e, no princípio, até o PDT, restando a oposição para os derrotados PSDB e PFL.

Essas chamadas bases do governo mostraram-se fracas, insuficientes para sustentá-lo até o final e obter para Lula a pretendida reeleição em 2006. Provaram isso os resultados das últimas eleições municipais, quando o PT perdeu em importantes capitais e grandes cidades do País.

Como necessário e de costume, os governos reformulam seus quadros após os pleitos, de acordo com o pronunciamento das urnas. No caso do governo Lula, a frágil aliança que mantinha, na base da troca, da cooptação via oferecimento de verbas e cargos aos "aliados", mostrou-se insuficiente para manter a mesma equação de forças. Ficou evidente a necessidade de reformular, reforçando, buscando evitar defecções e fortalecendo a aliança. Abandonando o que se pretendia fosse um governo do PT, com nada menos de 18 ministérios e um sem-número de cargos de escalões menores entregues a petistas, para atrair e abrigar mais peemedebistas, pepistas (malufistas) e o que mais for possível integrar o governo de coalizão, que substituirá a administração da agremiação dos trabalhadores.

Tudo isso está sendo feito para que Lula possa ter esperanças de, como candidato à reeleição, continuar no poder. O quadro é ruim para o PT e para os adesistas. Hoje há vários Partidos dos Trabalhadores. O que continua com Lula, apoiando seu governo sem restrições, inclusive engolindo a política econômica de Antônio Palocci; o que apóia Lula e sua administração, com restrições em relação à política econômica; e o que já não mais o apóia e está, expressa ou tacitamente, em oposição. Muitos petistas estão sob fritura para dar lugar a novos aderentes.

O mesmo acontece com a chamada base aliada. Há uma parte do PMDB que quer o rompimento, o abandono de cargos no governo, inclusive os dois ministérios que o partido detém, e a escolha de um caminho próprio para o futuro. Outra insiste em ficar no governo, mas em troca quer pelo menos mais um ministério que tenha verbas, expressão política e caneta na mão; vale dizer, ministério que possa funcionar politicamente. E o PP de Maluf também reclama sua fatia, exigindo cargos, que, aliás, já lhe foram prometidos.

Enquanto isto, o Congresso está parado. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT), reclama continuidade: "A sociedade está nos olhando e quer que esta Casa vote as coisas importantes para o País".

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