Um mundo de inocentes

A última é Denise Abreu. A ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) depôs ontem na Comissão de Infra-Estrutura do Senado Federal, falando sobre as denúncias que fez de irregularidades na venda da Varig e da VarigLog. Disse que renunciou ao seu cargo, no ano passado, para escancarar os reais responsáveis pela crise aérea. ?Fui considerada bode expiatório para blindar os problemas gravíssimos que havia no sistema aéreo?, afirmou ela no Senado.

Interessante este posicionamento de quase todos os ?homens públicos?. Não se discute aqui o teor das denúncias de Denise Abreu, que precisam ser investigados com rigor e correção, mas sim as atitudes das pessoas que estão em cargos de comando nos executivos federal, estadual e municipal e também legisladores e juízes.

Quando se faz alguma acusação ou denúncia, os afetados sempre se manifestam inocentes. E são, até prova em contrário. Mas mesmo quando estas provas aparecem, eles não admitem. Seguem afirmando que não fizeram nada, que são vítimas da Justiça e da imprensa (ah, a imprensa). Que vão provar a inocência – só nunca dizem quando e nem como.

No caso de Denise Abreu, outra reflexão. Quando há uma crise das proporções que vivemos no ano passado, não há um culpado ou responsável. Todos têm que assumir suas responsabilidades. O caos aéreo é responsabilidade de todos os gestores do setor desde o ministro da Defesa, comando da Aeronáutica, presidente, diretores e gerentes da Anac, controladores de vôo e empresas aéreas. Pode ser que Denise não seja a principal responsável no caso, mas não pode simplesmente dizer que não fez nada.

Se ouvirmos todos os envolvidos em todos os casos rumorosos da nossa política, chegaremos à conclusão que vivemos em um mundo de inocentes. Ninguém é culpado de nada. Ou, melhor: o culpado é sempre o outro.

Ou, pior: aqui no Paraná, denúncias são feitas na ParanaPrevidência e elas são confirmadas pelo governador do Estado. Mas o culpado, na visão dele, é quem denunciou. Pode?

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