Um gol de placa

Se você, meu prezado, é apenas leitor dominical de O Estado do Paraná, não sabe o que está perdendo. Este bravo matutino é capaz de oferecer-lhe preciosidades também no curso da semana. Veja, por exemplo, o que tem feito, aí ao lado, o Marco, esse talentoso menino (suponho que seja ainda um guri ou pouco mais do que isso, já que ainda não tive o prazer de conhecê-lo pessoalmen-te), que se reveza com o bravo Dante (este sim da minha geração – ou quase) no editorial ilustrado da página de opinião do jornal. Na terça-feira, ele nos brindou com uma pequena obra-prima de fino humor e fulminante crítica política. Em alguns traços, disse com a pena aquilo que levamos um tempão tentando dizer com a escrita, sem tamanho resultado.

O riso – expressou, certa vez, o jornalista Mino Carta – nem sempre vibra no rosto ou fragmenta a fisionomia numa gargalhada. Às vezes, ele “pode ficar por dentro, batendo asas entre o fígado e a alma, a voz submersa de um sentimento vingador da agulhada da pena”. Assim é, quase sempre, a charge política de boa qualidade.

Na terça-feira passada, o cartunista e ilustrador Marco, de O Estado, fez o retrato do nosso FHC, pequenino, mas com a habitual arrogância, no alto de uma bruta escada, duvidando da altura de Lula para ocupar o trono presidencial. Um achado, com o sabor de gol de Copa do Mundo, de preferência do atleticano Kléberson na desconhecida esquadra turca, no amanhecer desta segunda-feira.

Num primeiro momento, pensei em cumprimentar o autor através de mensagem interna ao comandante Mussa José Assis. Depois, achei que isso era pouco. Pessoal de jornal (aquele que exerce com seriedade a profissão) é, via de regra, operário anônimo, com muito pouco retorno de seu trabalho, cuja perenidade não vai além de 24 horas. É, por assim dizer, gente carente de elogio e de incentivo. Assim, estou aqui saudando publicamente, com muito gosto, o talentoso Marco. Até porque esse negócio de elogio em boca própria ser vitupério é uma tremenda bobagem, criada por alguém necessitado de afago.

Marco, meu caro, você foi genial! Como, aliás, tem sido em inúmeras outras ocasiões. Desta feita, porém, atingiu o alvo com a eficiência de um veterano. Certamente, Angeli, Laerte, Glauco, Chico e Paulo Caruso, Santiago, Alcy, Nani, Vasques, Solda e outros luminares do cartum político, incluindo o supracitado Dante, assinariam, com prazer, a sua charge. Talvez até mesmo o mestre Millôr o fizesse.

Só que ela não pode ficar circunscrita à repercussão de uma simples terça-feira. Merece edição dominical. Por isso, faço questão de ceder-lhe parte do meu espaço para um necessário repeteco, se não houver oposição superior.

Remoam-se de ódio, cultores do “gigante” de Brasília! E contradigam, se forem capazes.

Célio Heitor Guimarães

é um entusiasmado admirador do talento alheio.

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