Tratativas da sucessão

O Brasil deu uma pausa na discussão política para acompanhar a visita de Bento XVI, que estará entre nós até domingo. Mas, enquanto o pontífice concedeu alguns momentos de sua agenda para receber o presidente Lula e tocar, mesmo de leve, nas questões mais aflitivas, alguns cardeais da política não permitiram que o lume da fogueira perdesse a intensidade.

A imprensa trata de ver desdobramentos factíveis numa conversa de mais de três horas entre o governador Aécio Neves (PSDB) e os deputados Michel Temer (SP), presidente nacional do PMDB, e Henrique Eduardo Alves (PE), líder do partido na Câmara dos Deputados.

Segundo Aécio, o motivo precípuo foi pedir a adesão do PMDB, maior bancada da casa, para engrossar a tese da distribuição de maior volume de recursos provenientes da CPMF para estados e municípios, hoje reféns da inflexível política de repartição de recursos imposta pelo governo federal.

Entretanto, analistas estão enxergando alguns delineamentos prováveis por trás da conversa em torno de interesses comuns, já que o PMDB é governo em sete estados da Federação, abrigando também em seus quadros um número expressivo de prefeitos. Dentre os sinais entrevistos, o mais candente é a sucessão presidencial em 2010, perspectiva na qual se insere, sem a menor contestação, o governador mineiro.

No melhor estilo de seu avô, Tancredo Neves, Aécio declarou não perder ?um minuto de sono? para pensar em 2010. No que se conduz com acerto, porquanto resta ainda um bom tempo até as tratativas da sucessão e, acima de tudo, porque há temas de maior urgência sobre os quais os governantes estão obrigados a se debruçar.

Tangenciado, porém, o argumento, temas desse jaez não se ausentam da agenda de políticos que ocupam posições relevantes no proscênio republicano. Aécio Neves é, no mínimo, personalidade em forte ascensão na política brasileira. E uma composição entre o PSDB e o PMDB (admite-se que haja lugar para o PT), visando a sucessão de Lula, não é assunto desprezível. Com Aécio na cimeira, então, o caldo facilmente chega ao ponto de ebulição.

Voltar ao topo