Tortura chinesa

Há poucos meses o gigante oriental enchia de ufanismo as autoridades do comércio internacional e os exportadores, ávidos por ingressar no formidável mercado. O governo brasileiro não titubeou em reconhecer a China como parte exponencial do mercado planetário, antevendo o fechamento de negócios ancorados numa população superior a um bilhão de pessoas.

Não durou muito a euforia e hoje o ministro Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, é o primeiro a pregar a adoção de medidas de salvaguarda contra a entrada maciça de produtos made in China, no mercado brasileiro.

Nada menos que vinte setores advertiram o governo da posição desfavorável ante similares chineses, pedindo a fixação de cotas de sobretaxa para os referidos produtos, sob a alegação de prejuízos sensíveis em relação aos orientais.

Furlan esteve recentemente na China, onde colheu memorável fracasso ao negociar com representantes daquele governo, sobretudo com o ministro Bo Xilai, titular do Ministério do Comércio da China, uma fórmula capaz de equilibrar o desempenho de ambos os lados.

Diante do sonoro não do ministro chinês e a reafirmação de que a China quer mesmo é vender, Furlan está se esforçando para que o governo brasileiro use suas prerrogativas e estabeleça rígidos mecanismos de proteção interna às importações chinesas.

A explicação do Itamaraty, que não vê com bons olhos a retaliação proposta pelo ministro do Desenvolvimento, sobre a atitude tomada pelo governo chinês, é que Furlan partiu para as negociações de Pequim sem levar na maleta a regulamentação das salvaguardas previamente publicada no Diário Oficial da União.

Ante a inflexibilidade dos negociadores chineses, o documento oficial da posição brasileira, segundo o Ministério das Relações Exteriores, talvez tivesse mudado os rumos da conversação.

Quem decidiu que o ministro Furlan embarcasse para a China sem ter em mãos a regulamentação das salvaguardas foi o presidente interino José Alencar. Medida desastrosa para o comércio bilateral Brasil-China, cuja retomada vai demandar novas e demoradas tratativas.

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