Tombo na China

O teatrólogo brasileiro Pedro Bloch colocou na boca de personagem de uma de suas peças confissão de que sofria quando morria um gato na China. Globalização da piedade. Nesta semana assistimos à globalização de outro fenômeno. A Bolsa de Xangai fechou em baixa de 8,8%, a maior queda em dez anos. Houve um efeito dominó: despencaram os índices das bolsas da Ásia, da Europa, da América do Norte e até a de São Paulo, retrocedendo em níveis que anularam lucros auferidos durante muitos meses.

Foi a prova de que no mercado de capitais há globalização, gostem ou não aqueles que entendem que este é um fenômeno indesejável e que precisa ser combatido com passeatas, cartazes e protestos públicos. A globalização nos mercados financeiro e de capitais, embora desagrade a muita gente, é um fato irreversível. Em geral, combatem a globalização as esquerdas. Pois foi exatamente num país comunista, a China continental, que começou a derrubada das bolsas e afirmação da efetiva existência da globalização.

Há várias versões sobre as causas dessa queda em Xangai. Estaria o governo chinês – comunista politicamente e capitalista na economia -preparando-se para evitar o superaquecimento da economia do país, a que mais cresce no mundo. Há analistas que consideram que os preços das ações na China estavam supervalorizados e era preciso colocá-los de acordo com a realidade. Outros vêem também como componente do fenômeno a realização de lucros, ou seja, os investidores já estavam ganhando tanto com as sucessivas altas que entenderam que era hora de vender, desovar, apropriando-se dos lucros. As demais bolsas foram contaminadas pelos mesmos temores e assustadas por uma porção de boatos.

Pode-se dizer que por aqui a gente sofreu quando caíram as ações na China. Logo após a retumbante queda, as bolsas do mundo, inclusive a nossa, começaram a equilibrar-se e algumas a voltar a subir. Fácil de explicar: a enorme queda barateou as ações e as tornou atraentes para compra. Subindo de novo, poderão vir a despencar mais uma vez com nova realização de lucros, que é embolsar a diferença entre o preço de compra e o preço de venda. Os fatos indicam que há globalização irreversível em muitos aspectos, um deles o financeiro e outro o de mercado de capitais. Isso, para não falar na globalização da informação, do comércio, dos investimentos diretos e outros aspectos da vida moderna que confirmam a previsão de McLuhan, de que viríamos a ser uma aldeia global.

Veja-se que o Brasil, onde o PT ganhou (e perdeu) o poder, só ficando o presidente Lula, que de esquerda hoje quase nada tem em sua linha política, admite e até procura atrair capitais estrangeiros. E há grupos empresariais brasileiros que investem em outros países, formando multinacionais em áreas como a metalúrgica, cimento e até petróleo, com a presença da Petrobras em muitos países, embora atualmente contestada na Colômbia e outros países que empunham as bandeiras de esquerda. Temos as nossas multinacionais.

O fenômeno mais notável sobre a fluidez do dinheiro está acontecendo na China comunista. A queda na Bolsa de Xangai, que foi demasiada até aos olhos das autoridades daquele país, fizeram com que houvesse um imediato movimento de compra de ações para reerguer o índice. E entre os compradores surgiram empresas estatais chinesas. Como país comunista, a China ainda tem muitas empresas estatais. Mesmo estas agem como capitalistas, comprando em bolsa ações de empresas privadas ou vendendo as suas próprias. Se o Brasil quer ser um país atualizado e candidato ao futuro com que sempre sonhamos, é hora de aceitar o que é irreversível na globalização e entender como salutar o mercado de capitais, que é um mercado de risco. Um mercado onde o País sairá ganhando.

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