Site anuncia venda de terra na Amazônia a R$ 60 o hectare

O site "resourcesbrasil.com" está anunciando pela internet, a partir dos Estados
Unidos, a venda de áreas na Amazônia brasileira a R$ 60 o hectare, em média. Uma
das áreas oferecidas, de quase um milhão de hectares, fica no município de
Rurópolis, a 500 quilômetros de Belém e próximo a Anapu, onde foi assassinada,
em 12 de fevereiro, a missionária Dorothy Stang. A Polícia Federal está
rastreando o site para verificar sua origem e a partir daí identificar os
autores do suposto negócio ilegal.

Escrito em inglês, com ícones para
tradução em espanhol e português, o anúncio promete áreas com escritura,
perfeitas para projetos florestais sustentáveis e começa com uma pergunta
intrigante: "Looking for cheap timberlands? (procurando por terras madeireiras
baratas?). A seguir, garante que "investimentos em florestas proporcionam alta
taxa de lucro, acompanhada por alto grau de segurança, condições não encontradas
em nenhum outro investimento financeiro ou não-financeiro".

O
rastreamento vai definir se se trata de um trote ou de uma nova quadrilha de
grilagem internacional atuando na Amazônia segundo explicou o delegado regional
da Polícia Federal no Pará Raimundo Freitas. "Temos equipamentos e métodos de
inteligência para descobrir rapidamente os responsáveis pelo anúncio e seus
reais objetivos", disse.

O anúncio diz que o objetivo do grupo é promover
o desenvolvimento sustentável da Amazônia, mediante a exploração seletiva de
madeira na faixa de apenas 20% da floresta permitida em lei. Diz também ser
contra as queimadas. Cita ainda que centenas de fazendeiros americanos e
empresários estrangeiros, inclusive europeus e asiáticos, estão na região,
conhecida como Terra do Meio, por acreditarem que "é seguro investir em terras
produtoras de madeira no Brasil".

Entre os grandes grupos internacionais
presentes no negócio da exploração florestal brasileira, segundo o anúncio,
estariam o Japanese Corps, David Rockfeller, Donald Trump, Monsanto, Bunge e
Cargill. O apelo mais sedutor depois do lucro fácil e seguro, citado no anúncio,
diz que a região das terras oferecidas, vizinhas a Anapu, "não tem furacões,
terremotos, enchentes, vulcões ou terrorismo, além de uma inesgotável quantidade
de água doce". A seguir comete um exagero ao dizer que a região tem também "ar
fresco e comida limpa".

Na verdade, a área anunciada é marcada pelo
excesso de calor de mais de 30 graus na maior parte do ano, combinado com
umidade. O anúncio não cita os mosquitos transmissores de doença o ambiente
hostil de selva nem os atoleiros. O site fala ainda em quantidades desconhecidas
de quedas d’água e infinitas praias douradas. Na realidade, os rios correm em
região plana e as cachoeiras são raras.

Há dois anos, a PF fez uma ampla
investigação sobre o comércio ilegal de áreas da floresta amazônica. Um casal de
americanos e um brasileiro foram presos. Outras pessoas e empresas foram
processadas nos meses seguintes e, desde então, esse tipo de comércio havia
sumido da internet. O desmonte das quadrilhas internacional especializadas em
vender terras na Amazônia foi desencadeado em 2001, após a divulgação, no
Congresso Nacional, do relatório da CPI da grilagem de terras.

Em agosto
de 2003, a PF prendeu, em Santarém (PA), o corretor de imóveis Nilvo Antônio
Refatti, gerente da Rice Negócios Imobiliários Ltda, e os empregados da empresa
Hugo Canuto de Souza e Olavo Krug da Rosa. A Rice negociava terras da União no
oeste do Pará, usando publicidade em televisão, jornais e internet.

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