Seminário, em Ponta Grossa, discute plantio direto no manejo conservacionista

Retomar a discussão do plantio direto na região dos Campos Gerais a fim de superar as conseqüências decorrentes do abandono de práticas conservacionistas, é um dos desafios dos participantes do Seminário ?Conservação dos Solos e Água no Paraná?, que acontece, nesta quinta-feira, em Ponta Grossa.

O vice-governador e secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, destacou a importância do seminário, que tem sido realizado, desde o mês passado em vários municípios do estado, como Assis Chateaubriand, Maringá, Guarapuava e Mauá da Serra.

?Precisamos voltar a debater o manejo conservacionista. Toda a comunidade é responsável pelos prejuízos, causados por descuido ou abandono de práticas necessárias à conservação dos recursos naturais. O Governo tem que fazer sua parte, como os produtores e a sociedade em geral?, afirmou.

De acordo com os organizadores do evento, a conservação do solo da região precisa voltar ao centro das atenções de técnicos e produtores o quanto antes. O agrônomo do Departamento de Defesa e Fiscalização (Defis), do Núcleo da Secretaria da Agricultura em Ponta Grossa, Gil Oliveira da Costa, disse que, nos últimos 15 anos, intensificou-se o abandono de práticas conservacionistas na região.

?Algumas práticas foram deixadas de lado. Com o tempo, as erosões voltaram a aparecer. Hoje, há vários focos até nas áreas de plantio direto?, disse.

A situação é agravada com a falta de conservação de estradas rurais. ?Muitas são antigas, precisam ser readequadas e conservadas. O produtor precisa fazer a parte dele. Para isso, tem que adotar práticas, como cordões de contorno e terraços que, antes, estavam mais presentes na região?, lembrou.

Segundo Costa, alguns agricultores não conservaram essas barreiras físicas, que dificultam os estragos causados pela água da chuva. ?Hoje, em alguns lugares, já temos até voçorocas?, reclamou.

O produtor Manoel Henrique Pereira, conhecido por Nonô Pereira, afirmou que os produtores da região precisam fazer uma auto-análise e ver o que podem realizar para melhorar a situação. Segundo o pioneiro em plantio direto, o Paraná mantém a liderança nacional em conservação de solos.

?Para continuar assim, é preciso levar aos produtores uma visão mais atualizada sobre a importância do manejo conservacionista?. Pereira destacou a necessidade de revisar as tecnologias usadas no plantio direto e avaliar os níveis de fertilidade dos solos. ?Precisamos discutir como é feito o monitoramento deles. Também, é preciso analisar as práticas agrícolas, como a rotação de culturas?, acrescentou.

Segundo ele, a partir dos seminários, devem ser criados fóruns locais, coordenados pela Secretaria da Agricultura. ?Todos devem ser envolvidos: Emater, Iapar, Embrapa, fundações de assistência técnica universidades, colégios agrícolas. Enfim, todos que possam contribuir para que o sistema agrícola seja sempre avaliado?.

Preocupado com o abandono de áreas com plantio direto, o diretor-executivo da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (Febrapdp), Maury Sade, concorda que os seminários vão possibilitar uma maior discussão sobre o manejo conservacionista. ?Estão destruindo o que levou anos para ser construído. Até entre os produtores mais antigos, essa situação pode ser verificada?, disse.

Para Sade, que também é engenheiro agrônomo, é preciso debater sobre os cuidados com os recursos naturais urgentemente. ?Para não voltarmos ao passado, quando a situação foi bem mais grave?, lembrou.

O diretor-executivo da Ffebrapdp afirmou que é necessária a qualificação do plantio direto no Paraná. ?Para se ter vantagem no futuro, é preciso possuir todo um histórico e qualidade comprovada. Mas isso só se consegue com o tempo?, disse.

História

A prática do plantio direto na região dos Campos Gerais teve início na década de 1970. Na época, havia apenas algumas pesquisas sobre a técnica em Londrina (PR) e no Rio Grande do Sul. Na época, não havia um acompanhamento técnico junto ao produtor. Aqui na região, a erosão era muito grande. O plantio direto chegou para enfrentar o problema?, lembrou Sade.

Desde o início, alguns agricultores demonstraram interesse pela novidade. Entre eles, os produtores Frank Dijkstra e Manoel Henrique Pereira, que visitaram o professor Shirley Phillips, da Universidade de Kentucky, nos Estados Unidos. Durante a visita, eles explicaram que encontravam minhocas por onde a máquina passava com o objetivo de fazer os buracos para as sementes.

?Se estão encontrando minhoca, estão no caminho certo. Isto significa que existe matéria orgânica no local?, disse o professor norte-americano.

Em 1981, foi realizado o 1º Encontro Nacional de Plantio Direto em Ponta Grossa. Dois anos depois, nascia a Fundação ABC, primeira fundação do País com linhas de pesquisa, fomento e extensão, voltadas para o plantio direto. Em 1992, foi instituída a Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (Febrapdp). ?Hoje, nossos técnicos são convidados para falar sobre plantio direto em todo o mundo?, comentou Sade.

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