Sem fato novo, Lula continuará preservado, dizem analistas

São Paulo – A entrevista do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, revelando novos detalhes do esquema irregular que atingiu duramente o Partido dos Trabalhadores (PT), deverá ser usada pela oposição para tentar atingir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a liderança absoluta que ele vem mantendo nas pesquisas de intenção de voto. Apesar deste objetivo, analistas acreditam que o presidente continuará descolado do centro desses escândalos.

"A menos que exista um fato novo, que comprometa o presidente da República, ele continuará sendo preservado, principalmente, por conta da imagem receptiva que tem junto ao eleitorado das classes populares e também em razão do elevado capital eleitoral que ainda mantém", avaliou o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Fábio Wanderley Reis.

A mesma opinião é compartilhada pelo pesquisador e cientista político da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marco Antonio Carvalho Teixeira. "Apesar da expectativa da oposição, se Silvio Pereira repetir na CPI dos Bingos o teor da entrevista que concedeu ao Globo, não irá acrescentar nenhum fato novo que sirva de munição aos adversários do presidente Lula", afirmou.

Com base nessas avaliações, o cenário político não deverá se alterar significativamente nos próximos dias por conta da entrevista de Silvio Pereira. O pesquisador da PUC-SP e da FGV alerta, contudo, que, se o ex-secretário-geral petista estiver mesmo fragilizado emocionalmente por causa do eventual abandono que sofreu de seus companheiros de legenda, talvez possa "causar algum estrago" ao PT. Mesmo assim, Carvalho Teixeira acha que, dificilmente, ele comprometerá o presidente Lula porque, em sua entrevista, disse que, apesar do presidente ser um dos que mandavam na legenda, ele não sabia do esquema.

No entender de Fábio Wanderley, o depoimento de Silvio Pereira na CPI dos Bingos poderá comprometer também outros partidos, principalmente, os de oposição, já que ele fez questão de citar na entrevista que o esquema que abalou o PT, também era adotado por outras siglas. "Haverá um desgaste da classe política como um todo", acredita o professor.

Alckmin

Além da análise de que a entrevista de Silvio Pereira não tem elementos para servir de arma da oposição neste cenário de pré-campanha eleitoral, os analistas políticos comentaram o desempenho do pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin. "As perspectivas são ruins para Alckmin neste momento, porque, além de ele não ter conseguido crescer nas pesquisas de intenção de voto, o presidente Lula continua mantendo uma boa imagem junto ao eleitorado popular e as denúncias não estão atingindo o presidente", afirmou o professor da Universidade Federal de Minas Gerais.

Segundo Carvalho Teixeira, as perspectivas de Alckmin são muito difíceis neste momento. "Além da candidatura não ter decolado, ele parece estar isolado dentro do PSDB e existem fissuras regionais que precisam ser sanadas", frisou.

O pesquisador da PUC-SP e FGV acredita também que o fato de a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não ter encampado a tese de pedir o impeachment do presidente Lula foi uma "ducha fria nos ânimos da oposição", que contava com esta perspectiva. "A oposição não está conseguindo viver um bom momento e, além disso, está constatando que, do ponto de vista eleitoral, as denúncias não estão atingindo o presidente Lula." No seu entender, os eleitores estão separando o presidente do seu partido, o que tem proporcionado a Lula bons índices nas pesquisas eleitorais.

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