Sem Doha, podem avançar acordos entre União Européia e Mercosul

A retomada das negociações bilaterais entre o Mercosul e União Européia pode acontecer no segundo semestre, caso não haja avanço na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). "Ainda há chances das negociações na OMC serem concluídas, mas será difícil atender às expectativas de todas as partes, o que abrirá espaço para acordos bilaterais", disse nesta sexta-feira (1.º), em São Paulo o presidente da Eurocâmaras, Michel Mura, durante a abertura do III Fórum Europeu.

O presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Rubens Barbosa, afirmou que as negociações na OMC devem estar encerradas até julho e que se, além disso, o Congresso norte-americano não aprovar a autorização para o governo negociar acordos comerciais, o Fast Track, "não haverá Doha".

"Se Doha não sair, os avanços bilaterais União Européia e Mercosul são cruciais. Espero que no segundo semestre haja um avanço nas negociações com propostas concretas", disse Barbosa, acrescentando que os países asiáticos já começaram a negociar com os europeus.

Barbosa argumentou que a atual "paralisia" das negociações bilaterais não é culpa do Brasil, que fez uma oferta "abrangente e audaciosa" na última reunião de trabalho entre os blocos, no ano passado, quando foram melhoradas as propostas no setor de serviços, como em transporte marítimo, cabotagem, serviços financeiros, seguros e telecomunicações. "Mas a UE achou insatisfatória", completou Barbosa.

Assim como na Rodada Doha, as dificuldades nas negociações entre os blocos residem no acesso a mercados, principalmente o agrícola, além de investimentos e de serviços. "Queremos avanços em bens individuais e agrícolas. Mas, por enquanto, não há equilíbrio nas negociações. A União Européia quer atrair bens industriais, mas as ofertas na área agrícola são tímidas, assim como em Doha.

O diretor-adjunto de Comércio da União Européia e negociador-chefe para o Mercosul, Karl Falkenberg, ressaltou que a Europa continua interessada no Mercosul. Ele argumenta que a proposta da Comissão Européia de elevar o Brasil ao patamar de "parceiro estratégico" do bloco, que será formalizada em julho ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Lisboa, é prova disso. "Falta apenas vontade política para que as negociações avancem", salienta.

A vinda de Falkenberg ao Brasil, à Argentina, ao Uruguai e ao Paraguai nessa semana pode sinalizar da aproximação política com o Mercosul. No entanto, a posição da UE é de que as negociações com o Mercosul só prosseguirão após os resultados no âmbito da OMC. "O Peter Mandelson (comissário responsável pelo comércio externo da União Européia) passa 90% de seu tempo em cima das negociações de Doha", explicou Falkenberg.

"A visita de Falkenberg traz a perspectiva concreta de volta das negociações entre os blocos no segundo semestre. No momento estamos parados aguardando os desdobramentos das negociações da Rodada Doha", afirmou o diretor do Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty, Evandro Didonet. "Estaremos reengajados e voltaremos a negociar", avaliou, acrescentando que o governo conta com a participação do setor privado para o avanço das negociações.

Para o ex-presidente do Fórum Empresarial Mercosul-União Européia Ingo Plöger, a participação de Falkenberg no Fórum "é um bom sinal de que a União Européia está retomando seu interesse pelo Mercosul". "Agora vai depender da vontade política dos dois blocos para que as negociações avancem", salientou.

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