Sem chutes

O humorista Chico Anísio, gozando os ?assessores? que pululam neste País e quase sempre não têm qualificação para tanto, dizia debochado: ?Assessor, e ainda com quatro esses?. Há assessores que são competentes. Têm estudo e experiência e debruçam-se sobre os temas que lhes cabe assessorar com rigor técnico e científico. Mas seria a economia uma ciência exata? Se em alguma coisa o é, com certeza no Brasil do futebol vai em frente, pára ou recua na base do ?chute?. Lula tem seus assessores. Aliás, os tem em excesso, como acusam seus opositores, que acham que aquele montão de gente que cerca o presidente é de correligionários com títulos pomposos, inclusive de assessores. E salários nada desprezíveis.

O desejo de um presidente bem intencionado – e o nosso o é, sem dúvida – é buscar resultados positivos em sua gestão e os assessores que não são ?experts?, mas apenas espertos, alimentam essa pretensão com previsões otimistas lastreadas em números maximizados e em geral dispensam provas. Não seria de se exigir que Lula, um admirável líder sindical, sem instrução formal, mas que vem dando uma lição ao País de como se faz política eleitoral, entendesse profundamente de economia. E ainda fosse capaz de previsões que não são possíveis nem com os conselhos das assessorias nem com bola de cristal.

No entusiasmo de quem exerce o mais alto cargo da nação e vai repetir a dose, o presidente da República sempre falou em elevado crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), a soma do que o País produz ou vai produzir dividida pelo número de habitantes. Os números que forneceu à opinião pública sempre escaparam às perigosas comparações com o que vêm logrando, na matéria, outros países na mesma situação do Brasil ou mesmo piores. Assim, passamos a ser um País otimista dirigido por gente eufórica. Um paraíso para os ?assessores? com quatro esses.

Para cada ano de sua gestão primeira, Lula sempre previu crescimento econômico satisfatório. Para o primeiro ano do segundo mandato, anunciou 5% de aumento do PIB. Alguém assoprou esse número nos ouvidos do chefe da nação, provavelmente os assessores de araque, pois as instituições que estudam o assunto, inclusive governamentais, e o mercado, que mais obedece a lei da oferta e da procura que as ordens palacianas, nunca acreditaram em tanto sucesso. E o sucesso não veio no ano passado, neste ano e agora até Lula já admite, a portas fechadas, que o crescimento de 5% do PIB em 2007 já era. O Planalto estaria agora trabalhando com um novo número: 4%. O mercado acredita em apenas 3,5%.

A nova notícia é de que doravante Lula vai evitar falar em números. Adotará um discurso sem percentuais, pois considera que caiu numa armadilha que ajudou a montar, quando divulgou os sonhados e inviáveis 5% no dia de sua reeleição. Naquela oportunidade prometeu um pacote de desenvolvimento para o segundo mandato. Agora ele quer ?mais criatividade e ousadia? da equipe econômica e abomina novos palpites furados. E o respeitado Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada), ligado ao Ministério do Planejamento, já diz que será difícil passar muito de um crescimento do PIB de míseros 3,5%.

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