Segundo turno morno

Estamos assistindo a um segundo turno morno, no que se refere à eleição para presidente da República. Nada de ataques pessoais, o que é bom. Nada de debates, o que é lamentável. Seria desejável que os candidatos aproveitassem os poucos dias que medeiam o primeiro do segundo turno para aprofundar as discussões sobre os problemas nacionais, identificando-os, buscando suas causas e, principalmente, suas soluções. E isso sem esquecer de apontar quem pagará a conta e como isso será feito. Lula nega-se a comparecer aos debates, salvo um único e derradeiro, argumentando falta de tempo em sua agenda, toda montada para viagens pelo Brasil. Serra insiste nos debates e tem comparecido àqueles para os quais os candidatos são convidados, expondo sozinho, e do seu ponto de vista, os problemas e soluções. Foi assim, por exemplo, no último programa Roda Viva, da TV Cultura, em que perguntadores foram alguns dos melhores jornalistas brasileiros. E todos lamentaram a ausência de Lula. O candidato tucano saiu-se bem, expondo seus pontos de vista. Teria o mesmo sucesso com Lula presente? Ninguém sabe, pois a ausência pode esconder a sabedoria dos candidatos. Ou o contrário…

Lula mantém sua campanha de paz e amor, não ataca o contendor nem por este é atacado no plano pessoal. Serra disse e repetiu que considerava Lula um homem de bem, apesar de achá-lo despreparado.

Como veículo de comunicação, é evidente que torcemos pela realização dos debates, pela divulgação das idéias e projetos dos candidatos. É nossa missão fazer uma ponte entre eles e a opinião pública. Um exemplo do quanto seriam úteis os debates e de que tem razão o presidente FHC quando alerta para as propostas a que faltam elementos de factibilidade, lembramos a colocação de Lula sobre a oferta de empregos para os jovens. Ele disse que, em seu governo, as empresas que derem trabalho aos jovens receberão auxílio de R$ 200,00 por vaga aberta. Na mesma oportunidade, prometeu que nenhuma criança irá à escola sem uniforme e alimentação. Quanto a priorizar o emprego aos jovens que adentram ao mercado de trabalho e criar estímulos para que as empresas os acolham, há um interessante projeto de lei no Congresso Nacional, que bem poderia ser analisado por Lula e Serra, num encontro voltado ao exame sério e profundo dos problemas nacionais. O estímulo dos R$ 200,00 per capita e o projeto de vestir as crianças e alimentá-las são propostas que merecem discussão. Buscam atender a verdadeiros e agudos problemas nacionais e não podem prescindir do exame de sua natureza: subsídio, assistencialismo ou o quê? Não podem prescindir, principalmente, da indicação de recursos para bancar essas duas custosas empreitadas.

No governo Sarney, e também no de Fernando Henrique Cardoso, multiplicaram-se os programas assistencialistas e ainda falta uma análise mais profunda de seus efeitos. Se apenas imediatos ou duradouros. Se é este o caminho que deve ser seguido por um País que, com largas áreas subdesenvolvidas, precisa priorizar os projetos permanentes. O já-ganhou que está impedindo os debates poderá reservar ao eleito muitas e desagradáveis surpresas e frustrações. Na hora das promessas, sobram boas intenções. Mas na hora de cumpri-las, podem faltar velas.

Voltar ao topo