Secretário de Direitos Humanos insiste que fotos são de Herzog

O ministro-chefe da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, afirmou hoje que confia na informação que recebeu da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), de que as fotos publicadas no último domingo pela imprensa não correspondem ao jornalista Vladimir Herzog, morto no DOI-Codi de São Paulo, em 1975. “Eu só divulguei essa informação publicamente porque eu tenho confiança na informação que recebi”, disse. “Transmiti uma informação da Abin e acho que não mudou nada de ontem para hoje”.

Ele procurou minimizar a informação do perito Ricardo Molina, cujo parecer indica que pelo menos duas das três imagens divulgadas são mesmo do jornalista. Segundo o ministro, o perito faz ressalvas em sua análise. “Ele próprio coloca os limites da perícia”.

Nilmário evitou polemizar a posição da viúva do jornalista, Clarice Herzog, que contestou a versão da Abin. “Nós não temos o direito de ficar discutindo com Clarice Herzog. Ela tem o direito de verbalizar a opinião dela. Agora, acho que nós temos que buscar a verdade”, afirmou. “Nós todos temos de ter solidariedade com ela, não discutir o que ela fala”.

Para o ministro, o fato de as fotos não serem do jornalista, como afirma oficialmente o governo, “não diminui em nada a gravidade da morte do Herzog”. “Um jornalista que se apresentou no DOI-Codi, quando procurado, e 24 horas depois estava morto. E soltaram aquela farsa, aquele suposto suicídio”.

Segundo ele, o Estado brasileiro já reconheceu a morte do jornalista por duas vezes, por meio de indenizações concedidas aos familiares. “Acho que não há nada mais a fazer em relação a Valdimir Herzog”, disse. “Para a história brasileira, Valdimir Herzog não se suicidou, foi assassinado de uma forma vil, de uma forma infame, pelo Estado brasileiro de então, pela ditadura militar”.

Embora não tenha citado o nome do padre canadense Leopold d’Astous, que seria o personagem das fotos publicadas, Nilmário classificou o episódio de uma “armação nojenta”, feita para “desmoralizar duas pessoas que eram críticas do regime”.

“Mesmo que as fotos não sejam do jornalista Valdimir Herzog, elas são frutos também da infâmia”.

De acordo com o ministro, a polêmica surgida a partir da publicação das fotos pelos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas será esclarecida nos próximos dias. “Estão chegando inúmeros depoimentos”.

Nilmário enfatizou que considera legítimo a sociedade reivindicar a abertura completa dos arquivos da ditadura militar mas que isso depende de uma legislação específica. “Tem de ter uma base legal “. O ministro salientou que existe um grupo de trabalho na Casa Civil e uma comissão formada no Congresso Nacional encarregados de estudar modificações na legislação atual. “Até porque, seja qual for a posição do governo, tem de ser aprovada pelo Congresso Nacional. Portanto, terá de ser uma coisa conjunta”, afirmou. “Ninguém vai ter acesso a dados que não seja em função de uma lei”.

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