Salário turbinado

Há alguns privilégios fruídos por poucos – em certos períodos da vida – creditados ao acaso da maior ou menor intensidade com que sopram os ventos sobre a gestão pública brasileira. Nem todos pertencem, ou têm acesso, ao fechado clube onde se determinam as ordens superiores da vida republicana. Assim, restam as manifestações de aplauso, indiferença ou crítica.

Se não há aplauso possível aqui, e a crítica será atribuída aos setores marcados pelo estigma da derrota eleitoral, a indiferença não é aceitável em nenhuma hipótese. Não é possível permanecer alheio ou desinteressado diante de um dado de tamanha relevância, acima de tudo, ante o estágio crônico dos baixos salários e da falta de empregos.

Os diretores da Itaipu Binacional, além dos treze salários convencionais para trabalhadores com carteira assinada, auferem também a participação nos lucros e resultados, um abono pago em novembro, e férias em dobro, segundo informações do jornalista José Antônio Pedriali, em O Estado de S. Paulo.

A enorme quantia é embolsada pelos diretores da empresa, que tem seis diretorias representativas ocupadas por brasileiros e paraguaios, em obediência ao tratado celebrado entre os dois países para a construção da obra. Além disso, duas das diretorias representativas são ocupadas, ao mesmo tempo, por dois titulares.

É óbvio que a liberalíssima política salarial destinada a diretores da Itaipu Binacional tem lídima correspondência nos ganhos de superintendentes, coordenadores, gerentes, encarregados, ou quaisquer qualificações engendradas pela tecnocracia que fez do serviço público autêntica reserva de domínio.

Sem dúvida, uma piada para milhões de brasileiros que, num hercúleo esforço, festejam a chegada ao pico permitido pela média salarial, hoje em R$ 1,7 mil.

Voltar ao topo