Safra menor

Não sopram bons ventos sobre a agricultura brasileira na perspectiva da próxima safra de verão. O tão ansiado patamar de 130 milhões de toneladas de grãos e fibras colhidos numa só temporada ficará para 2006, se porventura acidentes de percurso não atrapalharem os planos dos tecnocratas de plantão.

Desta vez, a culpa foi para a adversa política cambial que, numa ponta, obrigou os produtores a adquirir insumos tecnológicos na base do dólar cotado a R$ 3,30, mas, na outra, levou-os a vender a produção quando o dólar não valia mais de R$ 2,30. Um negócio de que até chinês desconfia.

Assim, segundo os primeiros números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada na próxima safra deverá sofrer uma diminuição entre 3,4% e 5,7%, não devendo exceder 124 milhões de toneladas. A queda deverá atingir de modo especial a soja, mas também será tangível nos cultivos de arroz, algodão e trigo.

Técnicos da entidade ligada ao Ministério da Agricultura e Abastecimento consideraram uma área plantada não superior a 47,2 milhões de hectares, em comparação com os 48,8 milhões de hectares plantados em 2004/2005. Além da perda em função da valorização do real frente à moeda norte-americana, houve também prejuízo com a prolongada estiagem na fase da colheita.

A principal preocupação dos técnicos é com a reduzida intenção de uso de fertilizantes já detectada entre os produtores que, ao lado das sempre possíveis adversidades climáticas, poderá acarretar dificuldades para os números finais da colheita. Por enquanto, o Ministério da Agricultura trabalha com informações sobre clima favorável nos próximos meses.

Para a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), aos poucos, o agricultor brasileiro vai se acostumando com os percalços dispondo-se a enfrentar as crises como fatos normais da atividade. O setor cooperativista conta hoje com uma rede de 1,4 mil cooperativas agropecuárias espalhadas pelo País, responsáveis por quase toda a produção nacional.

Todavia, a restrição do plantio não é algo que deva ser desprezado nos cálculos logísticos dos economistas, tendo em vista que os agricultores deixarão de faturar cerca de R$ 4,1 bilhões na próxima safra.

Com o acúmulo das perdas verificadas na safra passada, preços em declínio, câmbio desfavorável e produtividade afetada pela seca, o horizonte do produtor rural não anima ninguém a soltar rojões.

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