Revista denuncia comercialização irregular de milho transgênico

A revista científica Nature, em seu volume 434 de 24 de março de 2005, informou que o governo norte-americano autorizou o plantio e comercialização do milho transgênico inseticida Bt11 no ano de 1996. No entanto, segundo a publicação, o produto só foi aprovado para consumo humano e animal na União Européia em 1998, na Argentina e Austrália em 2001, Coréia, Filipinas e Rússia em 2003 e Taiwan e Uruguai em 2004. Esse milho codifica a proteína tóxica Cry1Ab do Bacillus thuringiensis subsp kurstaki (gene truncado), que dá resistência a lagartas de borboletas e mariposas.

O milho transgênico também recebeu o gene ?pat? da bactéria Streptomyces viridochromogenes cepa Tu494, que dá resistência ao herbicida glufosinato de amôneo (Liberty). Portanto, é considerada uma planta com duas características transgênicas. O grão do milho tem ao redor de 5 ng/g ou ppb da proteína Cry1Ab. Além desses genes ?comerciais?, também estão presentes o CaMV35S do vírus do mosaico da couve flor, dois introns IVS6 e IVS2 do próprio milho, gene terminador de seqüência NOS da Agrobacterium tumefaciens.

O artigo da revista Nature denunciou ainda que entre os anos de 2001 e 2004 a multinacional Syngenta produziu e distribuiu centenas de toneladas de semente do milho Bt10, uma modificação genética não avaliada e não aprovada em nenhum lugar do mundo. Essa variedade transgênica foi vendida como Bt11. A publicação relata que mais de 150 quilômetros quadrados foram cultivados com o milho Bt10 ao longo de quatro anos, representando 0,01% do milho norte americano. A falha foi descoberta por uma empresa produtora de semente.

De acordo com o texto da Nature, a agência americana de proteção ao meio ambiente, a agência de proteção à saúde humana dos Estados Unidos, o ministério da agricultura americano e a Casa Branca teriam sido envolvidos na questão e foi então criada uma estratégia para comunicar ao público e aos países importadores o problema.

A revista explica que o plasmídeo usado pela Syngenta na transformação do milho, além de conter todos esses genes do Bt11, também apresentava o gene ?bla? que codifica a enzima beta-lactmase. Esse gene é usado como gene marcador. Não está presente no Bt11, mas está presente no Bt10. A enzima beta-lactmase confere resistência aos antibióticos penicilina e ampicilina, chamado gene marcador ?amp?. Ou seja, a diferença entre Bt11 e Bt10 é a presença de genes de resistência a antibióticos.

Descontrole

A Nature alertou também que o uso de genes marcadores para resistência a antibióticos gera preocupação por existir a possibilidade da transferência para microorganimos que vivem no rúmen, intestino ou no meio ambiente agrícola. A taxa de transferência de DNA sob condições ótimas entre bactérias na natureza é da ordem de 10 elevado a -2 a 10 elevado a -5. A freqüência estimada de aquisição do gene marcador nptII, a partir de plantas transgênicas, em bactérias, sob condições ótimas, é da ordem de 10 elevado a -17 e, portanto, considerado pequeno por agências reguladoras.

Isto significa que o milho Bt10, descartado pela indústria por conter genes de resistência a antibióticos, foi reproduzido e comercializado durante quatro anos. ?Isso mostra o total descontrole que essas empresas têm em relação aos mutantes que produzem. O pólen dessa planta já foi espalhado no meio ambiente e nunca mais será retirado, permanecendo por toda a eternidade como uma ?poluição genética? no meio ambiente?, alertou a revista.

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