Responsabilidade partidária

A porta de entrada na política pode ser algum pistolão ou a conta bancária. Conta bancária baixa ou rica. Não são poucos os que começam na vida pública porque, sem dinheiro, encontram na conquista de um cargo público eletivo a forma de faturar um bom dinheiro sem a obrigação de suar a camisa e mostrar competência. E outros, abonados, entram na política porque vêem nela uma profissão que pode ser comprada e alimentar suas ambições desmedidas de enriquecimento, mesmo que por meios ilícitos e descumprimento das obrigações públicas.

Muitos, felizmente a maioria, entram na política por interesse pela causa pública, vocação, competência, desejo de bem servir a coletividade e fazer de seu município, estado e país um lugar melhor para todos viverem. Para uns e outros, a porta de entrada, seja a do bem ou a do mal, dá para o interior dos partidos políticos – clubes, que, na democracia, devem ser regidos por normas e orientados por idéias e programas visando ao exercício do poder de forma digna. Muitas vezes, entretanto, os partidos são usados por quadrilhas de malfeitores.

Assim, as responsabilidades pessoais de ?políticos? como os mais de setenta e provavelmente mais de uma centena de parlamentares envolvidos com o asqueroso episódio dos sanguessugas são desses criminosos de colarinho branco e também são dos partidos políticos. Até para entrar de sócio num clube recreativo para usar a piscina, ir aos bailes e participar de inocentes jogos, há um processo seletivo, os candidatos obrigados a provar comportamentos compatíveis e condições de conviver com os demais sócios. Para entrar nos partidos políticos em geral nada é exigido, a não ser o preenchimento de uma ficha de inscrição. E para subir na hierarquia da agremiação, mais funcionam as más qualidades, o uso e abuso do dinheiro, os conchavos e as associações inconfessáveis, que a contribuição com trabalho e propostas de interesse público.

A revelação dos nomes de tantos parlamentares envolvidos no episódio da inclusão no Orçamento da União de verbas para a compra superfaturada de ambulâncias, parte do dinheiro do povo sendo embolsado por deputados e senadores, tem levado a sociedade e alguns bons parlamentares a exigir investigações profundas e que os culpados não escapem da merecida punição. Punição sem indulgências, pois o dinheiro desperdiçado e embolsado pelos sanguessugas era numerário do povo destinado à saúde dos mais necessitados.

Mas os partidos devem também ser responsabilizados. A primeira voz levantada nesse sentido foi a de José Serra, ex-ministro, ex-candidato à Presidência da República, prefeito paulistano e hoje candidato ao governo do maior estado do País. Ele advogou desde logo que se existirem parlamentares do seu partido, o PSDB, envolvidos, que sejam de imediato expulsos da agremiação. O PSDB tem três nomes citados, um dos menores números de suspeitos. Há agremiações que exibem mais de uma dezena de sanguessugas e os premiam com novas candidaturas, para que sejam reeleitos e conquistem absurdas imunidades. Não são partidos, mas organizações do crime organizado.

É hora de se atinar para as responsabilidades dos partidos políticos. Eles têm de ser agremiações de homens de bem e não abrigos de quadrilhas que assaltam o poder e sugam o sangue do povo.

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