As algas estavam roxas, as rosas estavam suspensas, as escamas estavam apodrecendo, o veludo estava (como quer David Lynch ) azulíssimo, o ascendente era de escorpião ou de libra – escorpio. Os leques se abriam solenes, a valsa estava triste, os caleidoscópios estavam brilhantes, as amarras estavam analógicas, os automóveis estavam escarlates e os cinzeiros estavam resplandecentes, os aviões estavam lusco-fuscantes, as astronaves estavam claras, as luvas estavam belíssimas, as lojas estavam cheias, as ruas estavam largas, as árvores estavam caladas, as corujas estavam rosáceas, as roupas do armário estavam fenomenológicas, as máquinas de escrever estavam límpidas, os azulejos estavam lápis-lazúli, as nuvens estavam delirantes, os campos estavam verde-lumiére, as cadeiras estavam acordadas, as revistas estavam reluzentes, os lápis estavam amarelos, os quadros estavam sonolentos, as almofadas estavam acordadas, os tapetes estavam sussurrantes, os dedos estavam de seda, os armazéns estavam dourados, os cucos estavam orgulhosos, os planetários estavam abertos cheios de estralas, os computadores estavam transbordantes de idéias e imagens, a tela de cinema trazia a Century Fox, a raposa estava acossada, os leões estavam preguiçosos, os elefantinhos estavam pareciam personagens de Hatari (Hawks), as fechaduras estavam bronzeadas, as geladeiras estavam gritantes, as bolsas estavam cheias de dinheiro, os supermercados estavam rock?n?rollers, os pavões estavam cinemascope, as araras estavam cor-de-gelo, os fogões estavam abrasivos, os telefones estavam cantantes, os tetos da casa falavam em sânscrito, a Cinderela havia encontrado seu príncipe, a bela adormecida acordou, Mickey sorriu para a fotografia, o jogador de futebol disse ciao e foi embora, e assim a vida continua.
Lélio Sotto Maior Júnior é crítico de cinema.