Protesto de Garotinho pode atrasar definição de alianças de Lula e Alckmin

A greve de fome iniciada sábado pelo pré-candidato do PMDB à presidência da República, Anthony Garotinho, representa um fato novo – e absolutamente inesperado – no momento em que a corrida sucessória caminhava para uma polarização no primeiro turno entre o projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a candidatura tucana de Geraldo Alckmin.

A esta altura pouco importam os motivos de Garotinho.O importante a avaliar refere-se ao impacto do protesto sobre o processo político. Além de provavelmente travar a decisão do PMDB sobre os rumos do partido na campanha, o episódio certamente atrasará os acordos eleitorais tanto do projeto de reeleição do presidente Lula quanto os em andamento para definir os palanques do candidato do PSDB, Geraldo Alckmin.

Os convencionais do PMDB, de fato, terão imensa dificuldade para rejeitar a tese da candidatura própria na reunião marcada para o próximo dia 13, caso ele se mantenha em greve até lá. Para Garotinho, o sacrifício que se auto impôs terá valido a pena se alcançar unicamente esse objetivo.

O cenário de incerteza sobre se o PMDB terá ou não candidato, seguramente adiará a decisão do PFL sobre a indicação do candidato a vice-presidência na chapa de Alckmin. As seções regionais do PFL, e igualmente as do PSDB, dependem da definição do PMDB para fechar seus acordos estaduais e estabelecer o tamanho da aliança nacional da campanha da oposição.

O ex-governador do Rio se colocou numa posição capaz de gerar efeitos negativos para o governo e de reacender o debate sobre o papel dos meios de comunicação na disputa eleitoral. Garotinho se diz perseguido por setores da mídia e menciona enfaticamente o papel nas denúncias contra ele dos órgãos controlados pelas Organizações Globo.

Sendo impossível que as exigências dele sejam atendidas, uma vez que se insurgiu contra diferentes empresas jornalísticas e, difusamente, contra supostas ações do sistema financeiro para inviabilizar sua candidatura,ele poderá gerar um cenário dramático na medida em que os efeitos do jejum se acentuarem.

A iniciativa se inspirou claramente na greve de fome do bispo católico que, no ano passado, paralisou o projeto do governo federal de transposição das águas rio São Francisco. A debilidade física do religioso produziu no prazo de dez dias um clamor irresistível de opinião para que sua morte fosse evitada O episódio monopolizou a atenção da mídia nacional e atraiu também o interesse da imprensa internacional.

Garotinho é um candidato competitivo, pertence ao maior partido brasileiro e detém cerca de 15% das intenções de voto no País, segundo todas as pesquisas eleitorais. Além disso, ele domina o chamado voto evangélico cuja principal característica é o forte sentimento de comunidade. Não é descabido imaginar, portanto, que a favor dele se formará uma corrente de orações nas igrejas pentecostais.

O que acontecer a Garotinho, ademais, poderá ser debitado na conta do governo Lula, uma vez que se declara candidato de oposição ao governo petista e não hesita em vincular o interesse de seus supostos perseguidores aos movimentos dos estrategistas do Palácio do Planalto para impedir a sua candidatura.

Ao declarar-se em greve de fome, Garotinho mostrou sua inclinação para gestos impulsivos parecidos com os gestos que deram fama ao ex-presidente Jânio Quadros. A diferença entre um e outro consiste, porém, em que levado ao extremo, o jejum poderá causar-lhe a morte. Jânio preferia renunciar a suas candidaturas ou, como fez em 1961, ao cargo presidencial. Garotinho escolheu um caminho do qual não poderá desistir sem cair no ridículo e destruir a sua carreira política.

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