Propriedades famíliares se tornam negócios

Melhorar a capacidade de gestão, a qualidade dos produtos agrícolas e ampliar as relações com o mercado são os maiores desafios dos pequenos agricultores familiares hoje no Brasil. Eles plantam, colhem, comercializam seus produtos e cuidam da terra, representando 85% do total de propriedades rurais do País. De acordo com dados da Secretaria de Agricultura Familiar, órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, são 13,8 milhões de pessoas distribuídas em aproximadamente 4,1 milhões de estabelecimentos familiares, o que corresponde a 77% da população ocupada na agricultura. Os agricultores familiares produzem cerca de 60% dos alimentos consumidos pela população brasileira e 37% do Valor Bruto da Produção Agropecuária. Feijão, mandioca, milho, aves, suínos e a bovinocultura de leite são os carros-chefes desse segmento.

O Paraná tem 369.875 propriedades rurais, das quais 321.380 são da agricultura familiar, correspondendo a 41% de hectares e a 48,2% do valor bruto da produção do Estado. Para a safra 2005/2006, o Ministério do Desenvolvimento Agrário deve fechar 226 mil contratos no Paraná, o que totaliza R$ 1 bilhão em financiamentos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O Sebrae no Paraná, atento à realidade do campo, é parceiro em projetos de orientação, com vistas ao fomento, promoção e desenvolvimento da agroindústria. A II Feira Regional da Agroindústria Familiar e a II Feira Regional de Produtos Manuais, realizada em Maringá no início deste mês de abril (dias 7 e 8), mostrou exemplos de iniciativas que fortalecem o empreendedorismo no campo e que têm o apoio do Sebrae no Paraná. Durante os dois dias, pequenos produtores tiveram a oportunidade de expor e comercializar seus produtos.

As feiras são fruto de uma parceria maior, focada na agroindústria, o Programa Pró-Amusep – Programa de Desenvolvimento do Setentrião Paranaense, apoiado pelo Sebrae no Paraná, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), Sindicato Rural de Maringá, Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Universidade Estadual de Maringá (UEM), Centro Universitário de Maringá (Cesumar), Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense (Amusep), prefeituras e federações da agricultura. O programa discute, entre outras questões, a criação de novas oportunidades de trabalho local, o êxodo rural e a necessidade de uma diversificação da atividade econômica. Busca também promover o crescimento das 30 cidades que integram a Amusep, consolidando o desenvolvimento econômico regional.

O responsável técnico da área de agronegócios do Sebrae no Paraná, Onildo Benvenho, explica que a agricultura familiar, no Brasil, ainda é muito voltada para a subsistência. A Secretaria de Agricultura Familiar separa os agricultores em três grupos: os que estão inseridos no campo de atividades econômicas integradas no mercado, classificados como capitalizados; os descapitalizados ou em transição, mas com algum nível de produção destinada ao mercado; e os residentes no espaço rural, assalariados agrícolas e não agrícolas com produção agropecuária voltada quase que exclusivamente ao autoconsumo. O que se pretende, segundo Benvenho, através das parcerias, é dar uma visão empresarial ao pequeno agricultor, agregando valor aos seus produtos e mostrando que a sua propriedade, mais que fonte do seu sustento, pode ser um bom negócio. ?Além de capacitação técnica, precisa haver uma transformação de comportamento?, salienta.

Benvenho afirma ainda que é nesse processo de orientação e aprendizado que surgem novos sistemas de produção, como a agricultura orgânica, hoje em ascensão em todo o País. Na família Cruz, por exemplo, 12 pessoas trabalham para plantar, colher e transformar a cana-de- açúcar orgânica em melado, rapadura e açúcar mascavo. ?Cada um de nós tem sua função?, explica Carlos Alberto da Cruz, responsável pela venda dos produtos. ?Tanto no trabalho quanto na hora de dividir o dinheiro, tudo é feito igualmente.? Segundo ele, o sucesso do trabalho pode ser medido pelas vendas. ?Hoje a procura já é maior que a oferta, temos que ampliar para continuar crescendo, juntos.? O pequeno negócio também prosperou na família Wittmann, de Jandaia do Sul, no norte do Paraná. Comandada por ?seu? Lauro, a família é um exemplo de organização e união no campo. ?Meu pai começou tudo. Hoje eu, meus filhos e minha esposa trabalhamos juntos?, conta ?seu? Wittmann. Para a família Wittmann, a qualidade do morango orgânico que produzem é um orgulho e eles estão convencidos de que isso só é possível porque todos se sentem, e são, responsáveis e donos do negócio. 

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