Propinas eram pagas dentro do Congresso, relata empresário

O esquema da chamada máfia das sanguessugas, conforme descrito pelo empresário Luiz Antônio Vedoin à Polícia Federal, sustentava-se a partir do poder de barganha dos parlamentares de apresentarem emendas individuais e de bancada. Mas os governistas tinham seu poder turbinado, já que, votando a favor dos interesses do Executivo, conseguiam ter suas emendas liberadas mais rapidamente e com menos cortes.

Nas proximidades da votação do Orçamento, a família Vedoin, dona da Planam, iniciava uma campanha pelos corredores da Câmara, contatando parlamentares e pedindo emendas em favor da compra de ambulâncias, equipamentos médicos e ônibus destinados aos programas de inclusão digital.

As reuniões com os integrantes do esquema se davam nos próprios gabinetes, em geral com a presença dos parlamentares ou de assessores de confiança, nas quais os deputados apontavam os municípios aos quais o dinheiro seria destinado, acertavam os detalhes sobre a fraude nas licitações para garantir que uma das 18 empresas do esquema fosse vitoriosa e negociavam as propinas a serem pagas por emenda (em geral de 10% sobre o valor a ser direcionado). Alguns parlamentares eram mais vorazes. Conforme o relato de Vedoin, o deputado Reinaldo Gripp (PL-RJ) chegou a pedir 30%. Não houve acordo.

Segundo Vedoin, na maioria dos casos, os deputados levavam propina, mas os prefeitos, nem sempre. E todos estavam cientes do crime de direcionamento nas licitações. Uma vez acertado que a máfia tinha determinada emenda, a Planam punha sua equipe para trabalhar o pacote: elaborava os projetos que pediam a compra dos equipamentos, apresentava-os aos ministérios competentes, acompanhava sua aprovação, cuidava da elaboração e publicação dos editais das licitações nos jornais e tratava, depois, da redação de todos os documentos destinados ao recebimento do equipamento vendido.

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