Promessas e dívidas

Durante congresso da Organização Regional Interamericana de Trabalhadores (Orit), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez, diante de líderes sindicais, um discurso franco sobre as dificuldades enfrentadas pelos eleitos para cumprir as promessas de campanha. De ninguém, mais do que dele, esperavam-se tais confissões, pois dos últimos presidentes da República eleitos talvez ele tenha sido o que, com maior profusão e generosidade, tenha feito largas e miraculosas promessas, principalmente de transformações sociais. E não se há de duvidar que o líder sindical que logrou, depois de insistentes tentativas, chegar à chefia da nação, efetivamente desejava e ainda deseja tais e tantas mudanças. Ao falar em Fome Zero, igualdade social, oportunidades para todos, saúde pública universalizada, segurança, dez milhões de novos empregos e muito mais, não fazia demagogia, mas traduzia o que ambicionava e acreditava. E acreditava possível, chegando ao poder, transformar esses desejos em realidades que outros presidentes, em sua opinião por falta de vontade política, nunca concretizaram.

Que muitos não faziam o prometido por falta de vontade política não há dúvida. Representando forças oligárquicas, usavam o discurso das transformações como mero instrumento de conquista de votos: demagogia pura.

Lula, pelo contrário, não agia como demagogo, mas como crente. Acreditava que, desejando e assumindo o palácio, poderia transformar o Brasil num país mais justo, talvez no curto espaço de um mandato ou com uma única reeleição. Sua dura vida de migrante e líder sindical sofrido nas lutas às portas das fábricas dá credibilidade às promessas feitas enquanto candidato. E sua inexperiência no exercício do poder justifica o não-cumprimento, no prazo azado, do prometido. E explicam as desilusões que, por isso, causa em muitos que nele acreditaram e votaram.

Falando na Organização Regional Interamericana de Trabalhadores (Orit), quando cobrado a priorizar investimentos sociais em detrimento da política monetária, Lula afirmou que propostas de campanha eleitoral não são sempre cumpridas em tempo adequado. ?Todas as vezes que participamos de um processo político nós geramos dentro de nós todas as expectativas possíveis. Todas as expectativas são sempre altamente positivas?, disse. E acrescentou: ?E quando você toma posse, você percebe que, para concretizar as expectativas, leva mais tempo do que se imagina, e muitos terminam o mandato sem cumprir as expectativas?, acrescentou.

Nesse discurso, uma clara e honesta confissão, Lula não descarta as promessas de alcançar o país mais justo que plantou na campanha. Mas reconhece, com franqueza, lealdade e realismo, que é muito diferente prometer como candidato e realizar depois de eleito. E de certa forma implicitamente advertiu que, apesar dos esforços, não conseguirá cumprir as promessas que honesta, mas irrealisticamente, fez quando no palanque eleitoral. 

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