Produtores têm dívidas de R$ 6,1 bilhões

São Paulo (AE) – Os produtores brasileiros acumulam junto às indústrias de sementes, fertilizantes, defensivos e as tradings uma dívida vencida de R$ 6,1 bilhões, de acordo com estudo realizado pelo consultor André Pessoa, da Agroconsult, para a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Segundo ele, esta é a maior dívida da história já carregada pelas empresas de insumos agrícolas. Os números são referentes às safras 2004/05 e 2005/06, com exceção do setor de fertilizantes cujo total se refere apenas à safra 2005/06.

André Pessoa ressalta que, diferentemente da crise agrícola de 1995, quando mais de 80% do endividamento dos produtores estava vinculado aos bancos e ao governo, desta vez as dívidas são com o setor privado, que nos últimos anos tem substituído o governo no financiamento do custeio de safra. ?A questão é séria e o acúmulo desta dívida vai estrangular a capacidade de financiamento do setor privado?, explica o consultor.

Realizado em levantamentos junto às empresas, o estudo mostra que a dívida dos produtores junto ao setor de fertilizantes é de R$ 1 bilhão; com o setor de defensivos, R$ 3,6 bilhões; junto ao setor de sementes, R$ 370 milhões; e junto às tradings e esmagadoras, R$ 1,104 bilhão. ?O setor mais afetado pela crise é o de defensivos, que financia até 70% de suas vendas?, disse Pessoa. Os demais setores financiam apenas até 30% de suas vendas.

Da dívida total de R$ 6,1 bilhões junto ao setor privado, 60% está concentrada no setor de defensivos, 18% junto as tradings, 16% no de fertilizantes e 6% em sementes. ?O problema é que o setor de defensivos não é o primeiro que o produtor paga quando tem dinheiro. Primeiro ele paga as tradings, depois as sementes e os fertilizantes e deixa os defensivos por último porque, em último caso, ele reduz o seu uso?, disse.

A região centro-oeste é onde está concentrada a maior parcela da dívida não paga. ?Só o Mato Grosso responde por um terço da dívida, 34% do total, avaliada em R$ 2,1 bilhões?, diz Pessoa. A dívida de Goiás é de R$ 796 milhões, e do Mato Grosso do Sul, de R$ 518 milhões. No sul, Rio Grande do Sul responde por R$ 777 milhões, e Paraná, por R$ 595 milhões. A cultura mais endividada é a de soja, responsável por R$ 4,2 bilhões, 70% do total de R$ 6,1 bilhões.

Segundo o consultor, o fato de os preços da soja terem recuado e dos produtores do MT terem que usar mais tecnologia, combinado ao fato de que muitos contratos com a indústria foram fechados em dólar, provocou o forte endividamento da região. Além disso, os problemas logísticos encarecem o produto da região. No Rio Grande do Sul e Paraná, grande parte da dívida deve-se às conseqüências da seca que atingiu a região e quebrou muitos produtores.

Da dívida com o setor de fertilizantes, Mato Grosso responde por 31%, e Rio Grande do Sul, por 12%. Entre as culturas, a soja responde por 55% da dívida de fertilizantes, seguida por 19% do milho e 11% do algodão. No setor de defensivos, o Mato Grosso responde por 35% da dívida, seguido por 15% do RS. Entre as culturas, a soja é responsável por 69% e o algodão 15%. No setor de sementes, MT responde por 44% da dívida e o Paraná 13%. Entre as culturas, a soja tem 59% da dívida com as sementeiras, seguido por 30% do milho. Nas tradings, a dívida do MT é de 31% do total, seguido por Goiás com 22% e Bahia com 15%. Entre as culturas, a soja é campeã de endividamento também entre as tradings, com 91,3% ante 8,3% do algodão.

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