Produtor de soja deve ter segundo ano de prejuízos

São Paulo – Os produtores de soja brasileiros correm o risco de registrar prejuízo pela segunda safra consecutiva. A colheita ainda não atinge 10% da área plantada e os preços do atacado já são inferiores aos custos de muitos agricultores. E, com o avanço da colheita, a tendência é de queda nos preços, em razão do aumento de oferta.

No ano passado, os produtores já tiveram renda negativa, por conta da queda dos preços da soja e da quebra da produção. A baixa rentabilidade da cultura provocou uma redução de 1,156 milhão de hectares na área plantada, que na safra 2005/06 foi de 22,145 milhões de hectares. Indústria, produtores e analistas de mercado culpam a valorização do real pelos problemas do setor. Os problemas logísticos, a alta em dólar dos insumos e o combate à ferrugem asiática também são mencionados.

"O produtor comprou os insumos para a safra com o dólar a R$ 2,40, hoje o dólar está a R$ 2,20 e agentes do mercado dizem que a moeda pode chegar a R$ 2,00", diz o analista André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult. "Atualmente o prejuízo já é de cerca de 10% e pode chegar a 20% se o dólar chegar mesmo a R$ 2,00."

Pessôa observa que a valorização do real tem como pano de fundo uma perda de competitividade do Brasil no mercado exportador. Produzir e colocar a soja brasileira nos navios graneleiros ficou mais caro nos últimos dois anos. Segundo Pessôa, um dos problemas é a infra-estrutura de transportes, que não recebeu os investimentos necessários para assimilar o aumento de produção de grãos. "E o pior é que mesmo as estradas que já existem estão em más condições."

Outra questão é o próprio aumento de custos do produtor brasileiro em comparação aos dos produtores americanos e argentinos, seus principais competidores. Os agricultores nacionais estão tendo de arcar com despesas para combate à ferrugem asiática, doença que não representa ameaça séria nos outros dois países. Além disso, a alta dos fertilizantes tem maior impacto no Brasil. "Os EUA e principalmente a Argentina usam pouco fertilizante, porque seus solos são muito férteis", diz o analista.

Custos variáveis – Estudo da Agroconsult mostra que os custos variáveis tiveram alta significativa nas principais regiões produtoras do Brasil. Em Rondonópolis (MT), o custo, que era de US$ 8,00 por saca de 60 kg na safra 2003/04, saltou para US$ 9,20 por saca na safra 2005/06. Em Rio Verde (GO), o custo saltou de US$ 8,10 para US$ 11,00.

Os produtores brasileiros enfrentam problemas com a rentabilidade da soja em um momento em que seus preços no mercado internacional estão dentro da média histórica. Na bolsa de Chicago, a soja em grão vem sendo negociada a US$ 6,00 por bushel, o equivalente a US$ 220,00 por tonelada.

"O pior é que os fundamentos apontam para uma situação pior do que a atual", diz Leonardo Sologuren, analista da Céleres. Sologuren observa que, salvo quebra de safra na América do Sul, os preços da soja não devem se manter em Chicago. "A soja só não está mais baixa por causa de especulação na bolsa, mas a oferta mundial deve ser extremamente farta este ano", diz.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), Carlo Lovatelli, admite que o cenário que se desenha para os produtores de soja do Brasil nesta safra é pouco favorável. "Mas o cenário é ainda de muitas incertezas", avalia. A Abiove já mantém negociações com agentes financeiros e com autoridades dos ministérios da Agricultura e da Fazenda. Segundo Lovatelli, o objetivo é facilitar a liberação de recursos aos agricultores para que possam lidar com a situação de baixa liquidez do mercado da soja.

Uma das propostas da entidade é vincular os empréstimos à produção. Atualmente, os agentes financeiros pedem garantias reais para liberar os recursos. Como muitos agricultores já utilizaram tais garantias como lastro para outros compromissos financeiros, na prática a liberação de dinheiro novo fica bloqueada. "Um modelo que está em estudo é que o dinheiro seja concedido a partir de uma média de produção de três anos do agricultor", diz Lovatelli. Outra proposta é de que o prazo para saldar os recursos seja de mais de uma safra para que o produtor consiga se livrar da sazonalidade de preços.

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