Procuram-se carros blindados

Uma frase solta sexta-feira pelo ministro José Graziano sobre nordestinos virou polêmica imediata. O ministro disse: “Se os nordestinos continuarem vindo para cá, nós vamos ter que continuar andando de carro blindado”. O cá, no caso, é o sudeste. É simples. Ele quis dizer que os nordestinos não têm oportunidades nas regiões sudeste e sul e por isso entulham favelas onde entram em contato com o crime organizado, que na cruel estrutura social brasileira, virou empregador em regiões que o estado mal sabe que existem.

Ao dizer isso o ministro apontou duas questões: o Brasil tem um problema chamado nordeste e uma responsabilidade chamada nordestinos. O problema do nordeste é secular. Os senhores do nordeste são cruéis atrás de uma aparente benevolência, de uma prepotência que produz repugnância. Sim, o nordeste exporta sua gente para o resto do Brasil, porque esta gente não rompe a estrutura social rígida que os condena a ser para sempre servos ou animais famintos.

Esta estrutura poderia ser rompida através de política de Estado se os barões do nordeste que detêm poder político não se perpetuassem, para se locupletarem de ações que teoricamente deveriam ajudar os mais pobres, como é o caso da “indústria da seca”. Um exemplo de que os coronéis são resistentes é o fato de um governo teoricamente reformador, encabeçado por um partido que chegou a ter pretensão revolucionária, contar com apoio eleitoral e político destes abomináveis caciques.

Uma outra forma de liberação nordestina seria a revolução. Esta é mais complicada por falta de consciência política coletiva, de organização política revolucionária e também porque se manifestada, seria devidamente reprimida pelo Estado antes que pudesse obter alguma expressão. Assim, para o nordestino existe uma chance arrivista em outras regiões do país. E ele tem direito a esta chance, já que este país deu chance a famintos europeus, asiáticos e ainda hoje dá abrigo a chineses, coreanos e outros em busca de uma chance.

Fora do tacão dos coronéis e suas malas cheias de dinheiro nas eleições, quando ficam revoltados ao serem descobertos, o nordestino acredita na pequena chance, que o estado deveria estimular e criar condições para não ser apenas isso, uma chance. O que ocorre na prática é que muitos engrossam as fileiras dos excluídos. Ou da criminalidade. E aí ninguém gosta.

O ministro foi preconceituoso? Não. Ele falou de uma realidade, de uma sociedade impermeável que trata direitos coletivos como propriedade de castas e grupos. Esses brasileiros não gostam de ver a cara no espelho. E por isso é mais fácil censurar sob argumentos falsamente moralistas que ir a fundo de uma questão que há séculos clama uma abordagem honesta.

Em um país decente e honrado, a coisa seria diferente. Se o país fosse administrado com competência, o nordeste não seria a região desolada que todos conhecem. Coronéis do nordeste e elite branca do sudeste e do sul são parceiros em Brasília e portanto responsáveis por tudo que acontece. Que se sufoquem dentro dos carros blindados, porque neste ritmo um dia poderão não sair mais deles. Ou então que consertem o país enquanto é tempo. A culpa não é nordestina.

Edilson Pereira (edilsonpereira@pron.com.br) é editor em O Estado.

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