Problema do gás é anterior à crise da Bolívia, afirma Pinguelli

Rio ? Os problemas do consumo energético no país vão além da possibilidade de aumento do gás importado da Bolívia, avalia o ex-presidente da Eletrobrás Luiz Pinguelli Rosa. "Mesmo antes da crise do gás da Bolívia nós já vivemos uma crise interna escondida, porque se for necessário o uso de todas as termelétricas que existem no Brasil, por qualquer problema de variação de chuva, nós não teríamos como ligá-las", afirma Pinguelli. "É um contra-senso ter a termelétrica e não ter o gás para ela. Isso não tem nada a ver com a Bolívia", defendeu.

Segundo o ex-presidente da Eletrobrás, houve um equívoco na política de energia do país, de passar rapidamente da expansão do setor elétrico para o gás natural. Ele lembrou que o Brasil é país de maior recursos hidrelétricos do mundo e apenas o terceiro na sua utilização. Na avaliação de Pinguelli, não há uma situação confortável na produção brasileira de energia elétrica para atender a demanda do país. "O gás natural é um pouco o padrão tecnológico mundial e no sistema do capitalismo neo-liberal, chamado globalizado, a tendência é a padronização tecnológica, mas muitas vezes isso é uma burrice tecnológica, porque cada país tem sua especificidade", esclareceu.

O físico acrescentou que o Brasil tem uma boa matriz energética, porque entre outras coisas conseguiu elevar a produção do álcool e desenvolveu o setor elétrico, mas ressaltou que nos anos recentes não houve grandes avanços. "Desde as privatizações o setor elétrico ficou muito confuso e o governo Lula não conseguiu resolver o problema", afirmou.

Se ocorrer um grande aumento do gás vindo da Bolívia, seria mais econômico para o Brasil importar o gás liqüefeito, afirma Pinguelli. Para ele, a negociação dos dois países nesta questão do gás trata-se de um jogo complicado entre o justo e o injusto."No caso, a Bolívia também tem um limite e se ela ultrapassar este limite, o Brasil terá que buscar outra solução para obter o seu gás", explicou em entrevista ao programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional.

Pinguelli defenda a necessidade do Brasil investir em alternativas para o desenvolvimento de projetos de gás no país. "De qualquer modo o gasoduto está feito e é interessante utilizá-lo. Uma coisa não exclui a outra. Provavelmente a Petrobras vai aumentar o seu esforço exploratório e de implantação de campo de produção de gás no Brasil. Esta é uma lição que ela vai aprender", disse.

Voltar ao topo