Primeiro presidente indígena da Bolívia chega ao poder em cenário de reivindicação

A Bolívia tem duas capitais. Sucre é a capital oficial, mas é em La Paz que fica a sede do governo. A cidade foi fundada em 1548 com o nome Nuestra Senora de La Paz, Nossa Senhora da Paz em português.

Há semelhança entre alguns momentos históricos bolivianos e brasileiros. No século XVI, enquanto os portugueses exploravam o ouro brasileiro, os espanhóis encontravam a prata na Bolívia. A independência veio em 1825, três anos após o grito de Dom Pedro I às margens do Rio Ipiranga. Em 1980, a democracia foi restaurada na Bolívia, após a queda do governo militar. O mesmo processo estava em curso no Brasil.

A Bolívia é um dos países mais pobres e menos desenvolvidos da América Latina. Durante a presidência de Sánchez de Lozada (de 1993 a 1997), o país privatizou boa parte das empresas estatais. A distribuição de água na cidade de Cochabamba, por exemplo, até pouco tempo era toda privada ? 80% estava nas mãos de uma empresa estrangeira e 20% nas mãos de empresas privadas bolivianas. Hoje, a maior parte da distribuição já é feita pelo Estado.

A partir de 1999, a Bolívia iniciou um processo de retração orçamentária, que se refletiu na diminuição de recursos para programas sociais. O aumento da pobreza e os vários problemas sociais e econômicos geraram uma série de protestos. Os movimentos populares ? de camponeses, índios, sindicalistas ?, no decorrer dos anos, se uniram e ganharam força.

A população boliviana tem duas reivindicações principais. A primeira é a convocação de uma assembléia constituinte ? para que os governadores sejam eleitos por votação e não indicados e também para discutir temas como distribuição de terra, meio ambiente e os direitos dos povos indígenas.

A segunda reivindicação é a nacionalização do petróleo e a redução do preço do combustível. Uma questão ligada ao Brasil, já que a estatal brasileira de petróleo, a Petrobras, é a maior empresa em atividade na Bolívia, com investimento de U$ 1,5 bilhão e responsável por 15% do Produto Interno Bruto (PIB) boliviano.

Foi no clima de reivindicação que se realizou, no ano passado, a eleição presidencial na Bolívia. Pressionado pelos movimentos sociais, o presidente da República, Carlos Mesa, renunciou em junho. E o líder da oposição e do partido Movimento ao Socialismo (MAS), Evo Morales, ganhou as eleições em 18 de dezembro.

A posse de Evo Morales, cocaleiro e de origem indígena, está marcada para amanhã. Nesse futuro governo, uma das expectativas é a regularização da produção de coca. Apenas 15% dos bolivianos são brancos, e um dos costumes indígenas é mascar a folha de coca, que diminui os efeitos causados pela altitude.

Apesar de os indígenas serem maioria, essa é a primeira vez que um deles assume a presidência.

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