Previsibilidade e menor carga tributária podem ajudar o Brasil

Nova York – Um ambiente de menor carga tributária e de expressiva previsibilidade política pode favorecer o Brasil na atração de investimentos estrangeiros em meio às ações populistas que vêm emergindo na América Latina, como a nacionalização do petróleo e gás na Bolívia, decretada pelo presidente daquele país, Evo Morales. "Enviar fortes sinais aos investidores é a chave para o Brasil", disse Lisa Schineller, diretora de rating soberano da Standard & Poor’s.

Roger Scher, diretor-gerente e chefe de rating soberano para América Latina da agência Fitch Ratings, citou um artigo recente do ex-ministro mexicano Jorge Castañeda enquadrando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma esquerda "moderna, mente aberta e reformista", da qual também faz parte Michelle Bachelet, do Chile, mas acrescenta que, se reeleito, o presidente Lula deveria ter muito claro qual o ponto de políticas ortodoxas para benefício de ações sociais.

Schineller ponderou que não é "benéfico generalizar a experiência na Bolívia para a região como um todo". Ações como a anunciada por Morales estão "acontecendo em países de fracas instituições políticas", disse a analista da S&P em entrevista após em evento em Nova York.

O fato de Morales ter anunciado a nacionalização das reservas de petróleo e gás durante as comemorações do primeiro de maio, revela um forte viés populista – um fato que não surpreende os analistas. "(Esta) é indicação de uma tendência na América Latina. Um populismo que não é novo", disse o especialista da Fitch.

"Definitivamente, não é uma ocorrência positiva", afirmou Schineller. A analista citou que alguns países, como é o caso da Venezuela, estavam tentando extrair mais do investidor estrangeiro, em uma referência à tentativa do país de mudar contratos de petrolíferas de forma unilateral. Estes países, apontou a analista, não serão vistos com forte apetite pelos investidores estrangeiros. Uma questão que abre dúvidas sobre a trajetória do ritmo do fluxo de investimento estrangeiro para estes países na região no médio prazo.

No Brasil, disse Schineller, as instituições são mais fortes do que em outros países da América Latina. A analista cita que a Petrobras tem parceiros internacionais, mas que não detêm poder de voto, sendo, em teoria, a própria estatal a líder de suas operações. "Certamente, o FDI no Brasil está menor do que no passado. O pico dos anos 90 deveu-se às privatizações", lembrou.

Trazer mais investidores é crucial, estima a analista da S&P. Schineller destaca a criação de um ambiente de menor carga tributária e elevada previsibilidade política no País, uma vez que "os investidores internacionais irão olhar no Brasil estes fatores cruciais".

Scher, em referência ao artigo publicado recente pelo ex-ministro Castañeda, citou a diferença entre duas esquerdas na América Latina. De um lado está uma esquerda comprometida com progresso social, mas que segue políticas ortodoxas. De outro lado, está a outra esquerda que está repetindo os mesmos erros do passado, afirmou.

No artigo, Castañeda pontua que uma esquerda é moderna, mente aberta e reformista, da qual fazem parte Chile e Brasil. A outra esquerda, diz o ex-ministro mexicano, nascida da grande tradição de populismo na América Latina, é nacionalista, vociferadora e mente fechada, da qual fazem parte Evo Morales, na Bolívia e, no México, López Obrador.

Para o analista da Fitch, não há surpresa quanto a manifestações populistas na região. Ele exemplifica que, com indicadores econômicos tendo melhor desempenho, mas com níveis ainda elevados de pobreza na região, é até previsível a eleição de candidatos mais populistas. Com relação ao Peru, o analista disse estar preocupado, sobre o que poderá vir a ser a política econômica local. Contudo, ele ressalva: "Peru não é a Bolívia. A oposição é mais pragmática."

Para Scher, os líderes na América Latina precisam ter claro o que seria uma boa leitura social. Não podem depender de sua popularidade. Se Lula for reeleito, recomenda Scher, tem de estar consciente sobre qual é o ponto da ortodoxia. "Ortodoxia é fazer a economia crescer para que se tenham recursos para programas como o Bolsa Família ou de infra-estrutura." O melhor caso para Lula, estima o analista da Fitch, seria manter as mesmas políticas macro associadas com os pontos mencionados sobre a nova esquerda.

O analista enfatizou que será necessário ver ações sobre os gastos do governo à frente para avaliar o nível de comprometimento com o superávit primário, mas lembrou que "em 2002 os investidores locais estavam muito pessimistas sobre uma vitória de Lula e estavam errados".

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