Preços agrícolas devem elevar inflação em 2007

São Paulo – Se a inflação deste ano pode fechar abaixo de 4,5% – centro da meta estabelecida pelo Banco Central para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) -, em 2007 o quadro deverá ser totalmente adverso. A mediana da Pesquisa Focus para o IPCA já aponta para uma inflação encerrando 2006 em 4,42% e no universo das instituições que compõem a pesquisa do BC, um total de 100, já há as que apostam em um índice de 4,2%. A mesma pesquisa mostra, no entanto, que para 2007 as expectativas ainda apontam para uma inflação de 4,50%, mas se o cenário agrícola se alterar o IPCA poderá ficar acima deste nível.

Vários são os fatores que têm contribuído para que os consumidores consigam gastar menos este ano. Entre eles, estão a apreciação cambial, o excesso de oferta de grãos que deixaram de ser transformados em ração para aves, bovinos e suínos e a baixa demanda interna. Os importadores de proteína animal de origem brasileira reduziram suas compras depois da confirmação de focos de febre aftosa em algumas regiões do País e do receio da gripe aviária, que embora não tenha afetado o plantel doméstico, tem preocupado os consumidores de frango no mundo inteiro. A baixa demanda levou as vendas dos supermercados a cair 4,83% no primeiro trimestre e 10,1% em março sobre março do ano passado, segundo dados divulgados ontem pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

O resultado prático destas restrições pode ser visto nos indicadores de inflação, que quando não estão em queda captam variações bem inferiores às projeções do mercado. O Índice de Preços no Atacado Agrícola do IGP-M acumula no ano deflação de 4 07% e, em 12 meses, registra queda de 14,01%. No IGP-DI, o IPA-Agrícola já caiu 3,37% no ano e nos últimos 12 meses teve variação negativa de 13,19%. Este quadro, no entanto, não deverá ser repetido em 2007, de acordo com analistas consultados pela Agência Estado.

"O grande problema do setor agrícola hoje é a renda", defende o sócio da Financial Advisor, Miguel Daoud. Ele ressalta que praticamente metade dos insumos agrícolas é indexada ao dólar, mas a parte atrelada ao real não pára de subir. É o caso, por exemplo, do óleo diesel, que neste ano acumula alta de 0,66% e de 12,36% em 12 meses.

Daoud reforça que o aumento da produção para 121 milhões de toneladas previsto para este ano, ante 113 milhões no ano passado, não significa que a área plantada foi expandida. "É apenas o ganho de qualidade do produtor que conseguiu se manter na atividade. Mas, com a renda em queda, no ano que vem teremos uma redução do plantio", diz o sócio da Financial Advisor.

"O que levou a agricultura aos céus foi a desvalorização da moeda", afirma Daoud. "Nunca tivemos um programa sério de incentivo ao setor. Agora a moeda está voltando a se valorizar, a demanda mundial e a doméstica estão se retraindo e o produtor vem perdendo dinheiro", diz Daoud. Para ele, se agora o consumidor dos grandes centros urbanos está vendo os preços desabarem, no ano que vem a história será outra.

O diretor-financeiro do Banrisul, Ricardo Hingel, afirma que no Rio Grande do Sul, um dos principais pólos agrícolas do País, a grande preocupação está relacionada a preços. "A agricultura está tranqüila, com a safra normal. Mas os preços estão desvalorizados", explica. De acordo com ele, o milho não está tendo saída para se transformar em ração animal. "O pessoal aqui está estocando o grão e isso prejudica o preço", diz.

O pior, na avaliação de Hingel, é que o câmbio deverá continuar apreciado, reduzindo cada vez mais a renda do produtor "Há movimentos pontuais de alta do dólar, mas em seguida a cotação cai. Não existe ameaça de fluxo, o risco País é confortável e no front externo não há grandes preocupações", diz o diretor do Banrisul.

Fipe

O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Paulo Picchetti, também trabalha com a possibilidade de a inflação em 2007 ser superior à de 2006. Segundo ele, a soma de fatores que têm beneficiado o consumidor este ano não deve ser reproduzida no próximo ano, o que provocará taxas de inflação superiores às que vêm sendo registradas em 2006. De acordo com Picchetti, neste ano a má situação financeira dos produtores, conjugada com o bom clima, tem contribuído para que os preços dos alimentos, do ponto de vista do consumidor, tenha sido positivo.

Não é o que se verifica, de acordo com o coordenador do IPC-Fipe, na ponta do produtor, que, por causa da apreciação cambial e da menor demanda nos supermercados, está vendendo sua produção a baixo preço com a finalidade de formar caixa. "Embora haja um discurso político de ajuda financeira para o setor agrícola, a necessidade do agricultor em fazer caixa este ano poderá provocar uma redução da área de plantio para a safra 2006-2007", diz.

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