Porteira fechada

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá dificuldades para conduzir a um estágio de relativo êxito o seu segundo mandato, tanto no âmbito da coalizão governista, quanto no rol de projetos com que sonha romper a estagnação econômica dos últimos anos. Não terá descanso no trato com os principais líderes dos partidos ?subjugados? ao dever patriótico de emprestar ao governo o apoio político para o sucesso.

Trato feito é para ser cumprido, custe o que custar, é o raciocínio da maioria dos partidos da base, sobretudo no que diz respeito à nomeação de filiados – não confundir com ?afilhados? – para os cargos de relevo na composição dos ministérios confiados a cada um. Todavia, os dirigentes partidários foram pegos de surpresa ao ouvirem do presidente que não haverá ministérios com ?porteira fechada?.

Não foi bem essa a conversa inicial, aquela que precedeu a consolidação da base de sustentação formada por 12 partidos – a maior da história da República -, tendo os presidentes e operadores de cada agremiação obtido de Lula a promessa de liberdade irrestrita na nomeação dos correligionários.

A cizânia foi semeada no coração desses abnegados amantes da democracia, detentores da vocação suprema de servir a causa pública, ao saber que o compromisso de Lula não era para ser levado a sério.

Exemplo translúcido desse sentimento de perda espocou na convenção nacional do PP, com o inconformismo de seus luminares e a ousadia de proceder a imediata substituição dos estranhos porventura ocupantes de cargos de confiança na administração do Ministério das Cidades, no qual Lula manteve Márcio Fortes, cujo maior ?eleitor? é o ex-deputado Severino Cavalcanti.

Também o ministro Carlos Lupi, empossado no Trabalho, disse não abrir mão da prerrogativa de nomear gente do PDT em postos estratégicos da pasta, embora tenha aproveitado o discurso para ressaltar o compromisso do apoio da bancada pedetista ao governo.

Assim são conduzidas as coisas na política brasileira. Frustrados estão os que sonhavam com alguma sinalização mais esperançosa. Se o compromisso da ?porteira fechada? for rompido, o presidente decerto terá dado início a mais um áspero choque nesse início acidentado do segundo mandato.

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