Vice-prefeito do Rio defende veto ao Código Florestal

Voz dissonante no PMDB, o secretário de Meio Ambiente e vice-prefeito do Rio, Carlos Alberto Muniz, defendeu que a presidente Dilma Rousseff vete as mudanças no Código Florestal aprovadas na quarta-feira na Câmara.

Dos 74 deputados do PMDB, apenas 3 votaram com o governo. “Anistiar antigos desmatadores é um equívoco”, disse Muniz, que está envolvido diretamente na preparação da conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, a Rio+20, em junho. “Acho da maior importância que se preserve as margens de rios”, acrescentou.

Além de integrar a direção nacional do PMDB, o vice-prefeito carioca é dirigente do partido na cidade e no Estado. Para ele, o veto de Dilma “sinalizaria que a sociedade precisa discutir mais”. “O ato da presidente, e esperamos que ela não sancione essa parte da lei, é uma demonstração de que o assunto está aberto para discussão”, declarou. “Somos um país produtor e exportador de produtos agropecuários que, ao mesmo tempo, conseguiu reduzir o desmatamento. O debate é saudável para sociedade.”

Muniz disse que defendeu no partido a posição de que fosse mantido o acordo a que se chegou no Senado, mas foi voto vencido. “Sou a favor do veto e de que o assunto amadureça melhor.” O vice-prefeito participou do 2.º Seminário Internacional Brics Policy Center – Rumo à Rio+20, no Palácio da Cidade. A votação da véspera dominou os comentários entre participantes. “Foi um retrocesso imenso para o Brasil e para o mundo. A gente realmente espera que a Dilma vete o Código Florestal que foi aprovado e quero ver o Parlamento ter coragem de vetar a Dilma”, disse Ana Toni, do Greenpeace. “O Brasil não pode entrar na Rio+20 mostrando a fraqueza da sua liderança em um tema que é absolutamente fundamental na nossa história”, ela acrescentou.

Para Eduardo Viola, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, o resultado mina o prestígio internacional do Brasil. “Certamente é um resultado negativo para os setores orientados para a sustentabilidade da sociedade brasileira. Para os setores conservadores, é uma vitória, é evidente. Para o governo, é uma derrota que poderá ter diferentes tipos de consequência internamente, dependendo da evolução de outros fatores, entre os quais a CPI do Cachoeira e a dinâmica depois da campanha eleitoral.”

Pedro Cunca Bocayuva, professor do Instituto de Relações internacionais da PUC-Rio, disse que o mais importante é que não se consiga estabelecer um limite para a fronteira agrária, afetando as bacias hidrográficas. “Essa pressão está ligada evidentemente à aquisição de terras, à expansão das grandes monoculturas.”