Roberto Amaral deixa governo e inicia reforma

Brasília – O ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, pediu demissão em caráter definitivo, ontem. Em encontro realizado pela manhã, Amaral acertou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a sua saída do governo, o que inicia a reforma ministerial. Segundo um interlocutor de Amaral, a conversa com Lula foi cordial.

Durante o encontro, ele disse ao presidente que saía do governo por perceber que o seu partido queria o cargo. No início do ano, o ministro anunciara sua demissão, mas acabou ficando no cargo até que Lula definisse a reforma ministerial. O nome mais cotado para substituir Amaral é o do líder do PSB na Câmara, Eduardo Campos (PE). A reforma deve ser anunciada provavelmente hoje.

Ainda na tarde de ontem, segundo informou uma alta fonte do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria decidido pelo nome do deputado petista Patrus Ananais, de Minas Gerais, para assumir o Ministério do Desenvolvimento Social. O outro cotado para a vaga, Tarso Genro, disse ao sair do encontro com Lula, ontem, que tem um trabalho importante pela frente na Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e deu a entender que não assumirá o novo ministério.

Tarso disse que não tratou da reforma ministerial com o presidente, mas sim do fortalecimento de sua secretaria. Ele informou que o presidente está satisfeito com seu trabalho e afirmou ter pedido condições novas para sua pasta neste ano, o que, segundo ele, está ocorrendo. “Eu pessoalmente descarto, mas o presidente nem carta nem descarta”, disse Tarso ao ser perguntado se assumiria o novo ministério.

Além de Roberto Amaral, o presidente recebeu no Palácio do Planalto o ministro José Graziano, da Segurança Alimentar (que deve deixar o cargo para que o seu ministério seja parte do novo Ministério do Desenvolvimento Social), e o govenador de Santa Catarina, Luiz Henrique Silveira. A pressão feita pelo PT do Rio, que reclamou da possível saída dos três ministros representantes do Estado -Benedita da Silva, Miro Teixeira e Roberto Amaral – pode ter surtido efeito.

O presidente Lula, segundo informações do Palácio do Planalto, cogita transferir Benedita da Silva para a Secretaria de Assuntos da Mulher, substituindo a gaúcha Emília Fernandes. Assim, estaria reduzida a cota de gaúchos no ministério, que já tem Olívio Dutra e Tarso Genro.

PMDB

Faltaria, portanto, a definição sobre o espaço do PMDB no governo. Ao partido foram oferecidos os ministérios das Comunicações e o mais cotado é o líder da bancada na Câmara, Eunício Oliveira, e o da Previdência Social, que terá como titular um senador do partido. Dois disputam a indicação: Garibaldi Alves (RN) e Maguito Vilela (GO). Em conversas nos últimos dias, o presidente Lula deixou claro que o ministro dos Transportes, Anderson Adauto, deverá ser mantido no cargo.

O ministro das Comunicações, Miro Teixera, disse ontem que ainda não teve nenhuma conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a reforma ministerial, mas afirmou que quer reassumir o mandato de deputado federal. “Estou aguardando o meu substituto”, disse. E depois completou: “O meu desejo é retornar ao meu mandato. Tem uma coisa que não ficaria bem, sair do partido e ficar agarrado ao cargo”, afirmou.

Aécio Neves aprova Patrus

Brasília

– O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem o apoio formal do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, ao nome do deputado Patrus Ananias (PT-MG) para comandar o novo ministério da área social, a ser criado na reforma ministerial. A nomeação de Patrus resolve o problema da disputa da Prefeitura de Belo Horizonte.

O atual prefeito, Fernando Pimentel, também do PT, quer disputar a re-eleição sem ter que disputar a vaga no partido com Ananias. Pimentel tem o apoio de Aécio para sua reeleição à prefeitura de Belo Horizonte. Segundo interlocutores do presidente, Lula ainda guarda silêncio sobre sua opção e não revelou a Neves quem pretende escolher para o cargo, já que a pasta também está sendo disputada pelo ministro-chefe da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Social, Tarso Genro, que se apressou em negar a informação.

Indefinição preocupa área econômica

Brasília (AE) – A nova rodada de reuniões realizadas ontem no Palácio do Planalto não foi suficiente para superar completamente a paralisia na ação do Executivo provocada pela discussão da reforma ministerial. Essa indefinição, somada a alguns episódios dos primeiros dias de 2004, levou para setores mais sensíveis da área econômica a preocupação que aflige há tempos a classe política. “O ano começou mal e o mês de janeiro já está perdido”, comentou uma fonte ligada ao governo.

Ela se referia, além do desgaste da reforma ministerial, a dois episódios ligados diretamente à área econômica ocorridos em janeiro: a demissão de Luiz Guilherme Schymura da presidência da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e a declaração do ministro da Casa Civil, José Dirceu, de que o governo não tem pressa para encaminhar ao Congresso a proposta de autonomia operacional do Banco Central. Dirceu se retratou, mas sua declaração ficou registrada.

A agenda do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, nos últimos dois dias, é uma evidência de que sua participação no debate interno sobre a reforma ministerial tornou-se mais intensa. Tanto na segunda-feira como ontem, seus compromissos de agenda ficaram restritos a reuniões no Palácio do Planalto.

O imobilismo do governo a que se referem as fontes consultadas está localizado na ação institucional, das decisões de grande porte. A rotina dos ministérios segue normalmente, os ministros cumprem suas agendas mas todos – sem exceção – estão sob a expectativa das mudanças, que o presidente Lula parece decidir solitariamente.

Pinguelli será substituído

São Paulo

– O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está decidido a substituir o atual presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, de acordo com fontes consultadas ontem. O nome do substituto de Pinguelli deverá ser indicado pelo PMDB, no âmbito das negociações políticas para assegurar a participação do partido no governo federal.

A experiência do atual presidente da Eletrobrás no exercício do cargo foi considerada insatisfatória, de acordo com essas fontes, seja pelo viés fortemente acadêmico que o marca ou pela dificuldade de relacionamento com a ministra das Minas e Energia, Dilma Roussef, que conta com firme apoio do presidente da República.

Nos últimos dias, a cotação das ações da Eletrobrás no mercado de ações chegou a cair pela perspectiva de que o nome do PMDB que deve substituir Pinguelli venha a ser indicado pelo governador do Paraná, Roberto Requião. As iniciativas de Requião contra os interesses de concessionárias de serviços públicos no Paraná, nas áreas elétrica e rodoviária, provocaram temores no mercado de que esse comportamento se reproduza no comando da Eletrobrás.

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