Reformulada executiva estadual do PDT

Na tentativa de pacificar as duas alas que estão brigando pelo comando do PDT no Paraná, o diretório nacional reformulou a executiva estadual. O atual presidente, Nelton Friedrich, foi mantido no cargo mas terá que dividir as decisões partidárias com um grupo formado pelos seus críticos, entre eles, os senadores Osmar e Alvaro Dias, o deputado federal André Zacharow, Augustinho Zucchi, José Maria Ferreira.

A medida tomada pela direção nacional, entretanto, não foi suficiente para conter uma ameaça de retirada coletiva do grupo que entrou no partido em 2001, junto com os senadores Alvaro e Osmar Dias, que deixaram o PSDB. Osmar tem um convite permanente do governador Roberto Requião para retornar ao PMDB. Os dois conversaram longamente na última sexta-feira em Curitiba.

O senador ainda não respondeu, mas já avisou que a “mexida” na direção estadual do PDT não ameniza o desconforto que sente em relação à forma de condução da sigla no Estado. “Nunca pedi para entrar na executiva. Nós queremos que sejam realizadas as convenções municipais do partido. Este é o ponto principal”, afirmou o senador. Quanto ao PMDB, disse que irá continuar conversando com o governador, mas que antes de tomar uma decisão precisa saber qual é o projeto que o PMDB tem para as eleições de 2006. “Não estou me colocando como candidato. Só estou dizendo que o ingresso num novo partido depende também dessa questão. Eu quero saber o que o PMDB pensa sobre 2006”, afirmou Osmar. Um dos pontos que devem pesar na decisão de Osmar é o espaço que o PDT lhe proporciona no Senado. Osmar é o presidente da Comissão de Educação, indicado pelo partido.

Sem data

O deputado estadual Augustinho Zucchi também não se satisfez com a decisão da direção nacional de alterar a executiva. “Para nós o que interessa não é se o Nelton permanece ou não na executiva. A nossa prioridade é a realização das convenções. Nós temos que nos organizar para as eleições municipais do próximo ano”, disse.

A direção nacional não marcou a data das convenções municipais. Conforme nota distribuída pela direção estadual do PDT, as filiações nos diretórios municipais podem ser feitas pelas atuais comissões provisórias. “As filiações de pretensos candidatos podem ser encaminhadas independente do calendário das convenções, pois as comissões provisórias têm competência legal para isto”, afirmou Manoel Dias, na nota da executiva estadual.

Ainda conforme a nota, também não há data definida para a posse da direção. “Agora é necessário que a harmonia prevaleça nas deliberações para que o PDT cresça efetivamente. Assim, as convenções previstas para o segundo semestre devem resultar do consenso para que a unidade não seja quebrada em função de interesses alheios ao coletivo partidário”, disse Manoel Dias.

O secretário-geral do diretório nacional disse que a mudança foi feita para presevar a unidade interna. Também passam a fazer parte da executiva estadual o prefeito de Cascavel, Edgar Bueno, o vereador curitibano Jorge Bernardi, e os militantes Valmor Stédile, José Baka Filho, André Menegotto, Cleto Tamanini e Cassilda Canfield.

Liderança altera rotina de Mercadante

Brasília – Os últimos quatro meses foram de intenso aprendizado para o economista e professor universitário Aloizio Mercadante Oliva, de 49 anos, senador pelo PT paulista e líder do governo Lula. A nova função revolucionou a rotina e expôs sua imagem em doses altíssimas. Foi-se o estilingue de décadas de oposição, substituído pela vidraça cobiçada pelos atiradores de hoje. Não escapa desse cerco nem em casa: o pai de Mariana, de 18 anos, e Pedro, de 16, é requisitado a explicar cada movimento do governo.

O exercício da liderança exige mudanças radicais em Mercadante. No Senado, acredita ter encontrado o ambiente ideal para o debate de idéias, atividade que pratica com deleite e apuro – e agora também com muito cuidado. O senador admite que precisa se controlar na escolha das palavras. Afinal, há anos usa a tribuna para provocar:

– Tenho de ser comedido. Não posso intervir para polemizar, mas para convergir, buscar soluções e diminuir diferenças – diz, reconhecendo a dificuldade da transformação no perfil.

O adjetivo vaidoso sempre acompanha qualquer descrição da personalidade do senador, filho do general de Exército Oswaldo Muniz Oliva e da professora de ioga, vegetariana e homeopata Yara Mercadante Oliva. Vaidade intelectual, Mercadante tem mesmo e não esconde, lembrando sempre que pode da formação acadêmica em economia.

Os novos colegas, na chegada ao Senado, também lhe atribuíram certa arrogância. Um senador mais gaiato disse que Mercadante guarda o bom-dia e o boa-tarde na poupança, esperando rendimentos. Hoje, mais integrado, conversa, mas, às vezes, ainda parece fazê-lo como dever profissional.

– Ele é muito competente, explica as matérias com muita clareza. Mas o problema é que ele se acha o mais bonito e o mais inteligente… – define o senador José Jorge (PFL-PE).

A página do senador na internet (http://www.mercadante.com.br) é reveladora. No primeiro parágrafo da biografia, fica implícita uma dose da arrogância de que falam os senadores: “No final do século XIX, os Mercadante, vindos da Itália, se instalaram no Vale do Paraíba, em São Paulo. Os descendentes se espalharam pelo estado. Um grupo foi para a Baixada Santista. Lá, em 13 de maio de 1954, em Santos, entre tantos brasileiros ilustres, nasceu Aloizio Mercadante Oliva”, diz o texto.

No esforço para modular o discurso como representante do governo, Mercadante erra e acerta. Marcou ponto dez dias atrás, quando relatou a medida provisória que reabriu o Refis, o programa de financiamento das dívidas de empresas com o Fisco e o INSS. Ofereceu a relatoria do projeto a cinco senadores -quatro do PT e um do bloco governista – e nenhum deles aceitou, alegando desconforto com as fortes pressões empresariais. Sem opção, assumiu ele mesmo a tarefa.

Na última terça-feira foi a vez de perder. Na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), cochilou e deixou passar um projeto lesivo aos consumidores e que beneficiava as empresas de distribuição de energia elétrica, limitando a aplicação de redutores às contas de luz. Sem alternativa para reparar o erro, só lhe restou protestar e pedir as notas taquigráficas da sessão para tentar provar que o presidente Ramez Tebet (PMDB-MS) conduzira rápido demais a votação.

O senador hesita antes de responder a uma pergunta sobre o maior erro cometido nesses meses como líder. E conclui, com alguma demora, que falhou ao não encontrar uma saída para integrar a rebelde senadora Heloísa Helena (AL) à bancada.

Ele também perdeu para a Câmara a batalha pela reforma tributária, que gostaria de ver tramitando primeiro pelo Senado. Lula não comprou a idéia. Agora, com apoio do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e dos líderes, promoverá debates sobre o crescimento econômico, enfocando especialmente um par de delicados temas do momento: os juros e o câmbio.

São dois assuntos sobre os quais gosta de opinar, não raro divergindo do governo. Quando o dólar começava a trajetória de queda, Mercadante soou o alerta para o perigo que isso poderia representar para as exportações. Dias atrás, o Banco Central tomou medidas que foram ao encontro das idéias do senador, decidindo não rolar integralmente os títulos cambiais. Com dois mandatos de deputado, Mercadante estreou no Senado amparado por 10,5 milhões de votos.

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