PT centraliza poder para definir alianças regionais

Sem protestos nem polêmica, o plenário do 4º Congresso Nacional do PT deu ao comando do partido poderes totais para em 2010 fechar as alianças eleitorais que quiser e para intervir em qualquer seção estadual que as contrariar.

O objetivo foi não criar obstáculos para a construção da coligação em torno da pré-candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência. Por avassaladora maioria, a primeira plenária da reunião, comandada pelo novo presidente da legenda, José Eduardo Dutra, rejeitou todas as propostas de modificação nos textos apresentados pela Executiva Nacional e discutidos de manhã.

Diferentemente do tempo em que o partido era oposição, os grupos mais à esquerda não protestaram. Limitaram-se a fazer discursos de crítica, apoiados por alguns aplausos. O outro lado não reagiu nem quando foram lembrados pecados do governo e do PT.

Na sessão desta tarde, porém, foram aprovadas propostas mais à esquerda, mas que não interferiam na montagem da campanha de Dilma, como a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e apoio ao Programa Nacional de Direitos Humanos.

No debate da manhã, Markus Sokol, da tendência trotskista O Trabalho, defendeu uma resolução política que, ironicamente, pedia “um governo do PT”, em aliança com os movimentos sociais.

Também falava em nova Assembleia Nacional Constituinte, rechaçava a aliança com o PMDB e atacava o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e os ministros da Agricultura, Reinhold Stephanes, das Comunicações, Hélio Costa, e da Defesa, Nelson Jobim.

“Não é por acaso que todos se juntaram à cúpula do clero e às redes de televisão para atacar o Programa de Direitos Humanos”, disse. Mas a proposta de resolução da Executiva, propondo ampla aliança, foi aprovada.

Estados

Também fracassou a tentativa de grupos de esquerda de dar aos encontros estaduais do PT a última palavra para decidir as alianças regionais. O dirigente petista Renato Simões traçou um quadro de paralisia do PT em alguns Estados, devido à demora para decidir as coligações e à inação do partido para montar candidaturas próprias aos governos estaduais. “Todas as vezes em que alianças foram impostas nacionalmente, por mecanismos de coerção, os resultados foram danosos”, disse.

A manutenção da proposta da Executiva, que dava à Executiva Nacional poder de decidir em última instância as alianças regionais – ou seja, o poder para intervir – foi defendida pelo ex-ministro da Saúde Humberto Costa, pelo deputado federal José Eduardo Cardozo (SP) e por Jilmar Tatto. A proposta da esquerda também perdeu por ampla maioria.

“O PT é um partido nacional, portanto, a sua linha deve ser decidida nacionalmente”, explicou Cardozo em entrevista. “Temos de respeitar as peculiaridades regionais, mas haverá um esforço para construir a maior unidade possível. Foi derrotada a visão que pulverizava o PT, transformava o PT em ilhas regionais.” Entre os Estados com problemas para fechar alianças regionais, estão Minas Gerais, Pará, Ceará, Pernambuco, Bahia e Mato Grosso do Sul.

Aliados

Na discussão de política de alianças, também foi mantida a proposta da Executiva, que, genérica, não fala especificamente em nenhum partido como aliado. Foram rejeitadas emendas que apontavam o PMDB, por um lado, e o PDT, o PSB e o PC do B, por outro, como prioritários.

Dirigentes do PT, contudo, explicaram que isso não significava rejeição a essas legendas, apenas cuidado para não privilegiar nenhum partido, o que poderia provocar problemas.

“Se vai citar o PMDB, porque não citar o PC do B, o PDT, todos esses partidos?”, perguntou Dutra. “A importância que damos ao PMDB está explicitada nas conversas que nós estamos tendo desde o início. O PMDB é o partido com o qual assinamos um protocolo de intenções. Queremos casar sim com o PMDB. Estamos casados hoje, PT, PMDB, PSB, PDT, estamos casados hoje sob o governo Lula e queremos continuar casados no governo Dilma.”