PT admite caixa 2 para pagar Coteminas

O PT admitiu ontem que o pagamento de R$ 1 milhão à Coteminas, empresa têxtil do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, foi feito com recursos do caixa 2 criado pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares. Na tarde de ontem, em Curitiba, Alencar recebeu um telefonema do presidente do partido, Ricardo Berzoini, com pedido de desculpas pelo fato de o partido não ter contabilizado o pagamento de R$ 1 milhão que fez à Coteminas. O vice-presidente deu entrevista coletiva na capital paranaense, antes de sua palestra sobre política econômica brasileira, em evento promovido pelo Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep).

?Não é nada de novo, é caixa 2. Tem a ver com as práticas informais da gestão anterior?, admitiu o secretário nacional de finanças do partido, Paulo Ferreira. O secretário disse também que não irá prolongar o assunto e a direção do PT irá dar uma resposta objetiva à imprensa.

José de Alencar afirmou que a Coteminas também irá publicar uma nota hoje que deve esclarecer a transação. Ele explicou que o depósito foi efetuado para saldar parte da dívida de cerca de R$ 12 bilhões que o Partido dos Trabalhadores tem com sua empresa, referentes à confecção de camisetas para uso em campanhas eleitorais. A empresa forneceu 2,75 milhões de camisetas usadas na campanha de 2004.

?O PT pagou em espécie e isso foi registrado devidamente no livro contábil da Coteminas. Daí para frente é com o PT. Se o partido não contabilizou, o problema não é nosso. Não se pergunta ao cliente a origem do dinheiro?, disse José Alencar. Na contabilidade de campanha apresentada pelo PT ao Tribunal Superior Eleitoral referente à 2005 não há registros de depósito à Coteminas.

CPMI dos Correios

Segundo o sub-relator de movimentações financeiras da CPMI dos Correios, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), será enviado um ofício ao Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) e ao Bradesco, banco em que houve o depósito na conta da Coteminas, pedindo detalhes da operação. ?Se o depósito existiu e não está registrado nas contas do PT, isto provaria que Delúbio não contou à CPMI tudo o que sabia?, afirmou. A CPMI dos Correios, por meio da quebra de sigilo, vem analisando os dados das 16 contas bancárias do PT.

Em São Paulo, Delúbio confirmou, por meio de seu advogado Arnaldo Malheiros, ter feito vários depósitos na conta da Coteminas para cobrir gastos de campanhas eleitorais do partido. Em maio desse ano, Delúbio era o responsável pelas finanças do partido, mas afirmou não lembrar quanto em dinheiro havia sido pago à empresa. Alencar disse que não vê problema em a CPMI investigar o caso.

Reeleição

Na coletiva em Curitiba, José Alencar não poupou elogios ao presidente Luís Inácio Lula da Silva e disse que vai apoiá-lo se ele desejar se candidatar à reeleição. ?Mas eu não saio mais como candidato. Vou voltar para a minha mulher e para minha família?, finalizou Alencar.

CPMI dos Correios suspeita de outra fonte de caixa 2

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios suspeita que o suposto dinheiro do pagamento de R$ 1 milhão feito pelo PT à Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), em 17 de maio, pode ter saído de uma outra fonte de caixa 2, ainda desconhecida, e não das contas das empresas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, estas bastante vasculhadas. A direção do PT não encontrou o registro do pagamento à Coteminas, o que reforça a desconfiança. "Como hipótese, pode sim haver outra fonte de dinheiro além das do Marcos Valério", disse o relator da CPMI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).

Serraglio disse que pedirá ajuda à Polícia Federal (PF) para verificar a contabilidade da Coteminas, empresa têxtil do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, para onde foi destinado R$ 1 milhão, de acordo com reportagem publicada no jornal Folha de S.Paulo de domingo. O relatório de Serraglio ficará pronto até o dia 15, quando, oficialmente, terminam os trabalhos do Congresso.

Investigação

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), da CPMI, defende o envio de uma representação à Justiça Eleitoral para investigar se o PT declarou o R$ 1 milhão que teria sido pago à Coteminas, bem como a dívida de R$ 12 milhões pela compra das camisetas. O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), afirmou que a CPMI dos Correios deve investigar a origem do R$ 1 milhão. O líder observou que tudo indica que os recursos vêm do "valerioduto", o caixa paralelo montado pelo empresário Marcos Valério para pagamentos a partidos políticos. Segundo o senador, o PT agiu sem pudor ao usar dinheiro sem origem comprovada para pagar dívidas de campanha com a empresa do vice-presidente.

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, quer que a suspeita de repasse de R$ 1 milhão do caixa 2 do PT para a Coteminas seja investigada com profundidade. Ele frisou, no entanto, que o os dados que permitiram tal suspeita foram informados pelo próprio governo federal.

O presidente do TSE, Carlos Velloso, recusou-se a comentar diretamente as suspeitas de que o PT teria repassado dinheiro de origem duvidosa para a empresa Coteminas. Mas disse que, em tese, "o que tem acontecido tem preocupado muito os juízes eleitorais". Já o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, afirmou que é preciso colher mais informações a respeito e que seria precipitado emitir opinião no momento.

Negociação

O presidente da Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), Josué Gomes da Silva, filho do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, reiterou ontem que não sabe a origem dos supostos recursos pagos pelo PT à empresa por uma dívida relativa à confecção de camisetas para a campanha presidencial de 2002. "O dinheiro foi pago pelo Partido dos Trabalhadores, e como vou colocar sob suspeita os recursos vindos do partido?", disse, reiterando que a Coteminas não tem responsabilidade sobre a origem dos recursos dos clientes. "Não cabe a mim verificar se os clientes que nos pagam estão contabilizando ou não seus recursos", disse. Ele ainda afirmou que a empresa continua a negociar com o partido o pagamento da dívida, que somaria mais de R$ 12 milhões. Silva disse ainda que a Coteminas não tem planos, por hora, de acionar judicialmente a legenda.

Voltar ao topo