PMDB do Paraná vota pela saída do governo federal

pmdb071204.jpg

Requião, com Dobrandino: "Em troca de cargos, o PMDB foi encilhado".

O PMDB do Paraná aprovou ontem à noite, por unanimidade, o afastamento do governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT), em encontro do diretório regional realizado no Hotel Rayon, em Curitiba.

Do total de integrantes do diretório que compareceram à reunião, a maioria absoluta votou pela independência do partido e entrega dos dois ministérios (Previdência e Comunicações). A posição do Paraná será apresentada na convenção nacional extraordinária marcada para o próximo dia 12, em Brasília. O diretório aprovou também a retirada do "p" do nome do partido.

No discurso de abertura do encontro, o governador Roberto Requião disse que a consulta feita ao partido não era sobre o abandono do governo nem do presidente Lula. "É de abandono de cargos. Em troca de alguns e poucos cargos, o PMDB foi encilhado e passou a ser obediente ao governo federal. Não discute política, não participa de decisões e, de certa forma, homologa a política econômica do Fundo Monetário Internacional (FMI)", afirmou.

Para o governador, a condição de independência do PMDB presta um serviço ao País ao abrir a perspectiva de dicussão de outro projeto econômico. Quanto às relações com o PT do Paraná, Requião afirmou que nada vai mudar. Disse que, desde o primeiro dia do seu governo, o PT do Paraná tem votado como deseja. ele lembrou que o partido, na semana passada, fechou questão contra alguns projetos de interesse do Executivo na hora da votação em plenário. Ele disse ainda que não cobra subordinação, disciplina "tola e racional" nem do PMDB e que o PT tem a liberdade de se posicionar. "Acredito que não teremos problemas com o PT porque as nossas propostas são de interesse público", disse.

O presidente do partido, deputado estadual Dobrandino da Silva, afirmou que o PMDB não está rompendo com o PT, mas apenas se afirmando como uma sigla que tem um projeto de candidatura própria à presidência da República, em 2006. "Seremos independentes. Apoiaremos o que for bom para o país", comentou o dirigente peemedebista.

Dobrandino afirmou que os peemedebistas paranaenses não estão preocupados com a possibilidade de o PT estadual dar o troco e também deixar a base aliada ao Palácio Iguaçu, na Assembléia Legislativa. "Imagino que o acordo no Paraná será mantido. Mas se tiver reação, paciência…", declarou.

Mesma moeda

Já se antecipando ao resultado do encontro do PMDB, o presidente estadual do PT, deputado estadual André Vargas, disse que a opinião majoritária no seu partido é dar ao governo Requião o mesmo tratamento que os peemedebistas dispensarão ao governo Lula. "A tese que mais prospera no PT é pegar o mesmo documento do PMDB e só trocar os nomes, declarando também nossa posição de independência", afirmou.

O PT irá se reunir no próximo dia 18, em Curitiba, para definir qual será a reação local à nova postura peemedebista em relação ao governo federal. "Acho que quem tem cargo no governo Requião já deve estar constrangido com tudo isso. Mas só vamos decidir o que fazer no dia 18", desconversou.

Dobrandino se irritou com os comentários de Vargas quanto ao PT retribuir na mesma moeda ao governo Requião. "Desde o início do governo, ele vem criticando o governo. O André Vargas é um pouco responsável por isso que estamos fazendo aqui no Paraná. Ele nos empurra para fora do PT", atacou.

Partido também decide se afastar do governo

Os coordenadores regionais do PPS defenderam ontem o afastamento do governo Luiz Inácio Lula da Silva e o processo de aproximação ao PDT. O encontro foi comandado pelo presidente do Diretório Regional do PPS, Rubens Bueno. O grupo se mostrou simpático à proposta de aliança nacional com o PDT nas eleições de 2006, ainda que fazendo algumas restrições de caráter local.

A manifestação contrária à permanência na base de apoio do governo federal foi unânime. Todos os coordenadores disseram que o partido deve entregar os cargos e afirmar uma postura de independência. O PPS enfatizou o propósito de lançar candidato próprio ao governo do Estado em 2006, assim como chapas completas de candidatos à Assembléia Legislativa e à Câmara dos Deputados.

Para garantir que isto aconteça, os coordenadores iniciarão o quanto antes, um trabalho de composição e articulação das candidaturas a deputado federal e a deputado estadual. "Nosso desafio maior é superar as cláusulas de barreira, em 2006. E saímos da eleição municipal fortalecidos para esse enfrentamento. Se a cláusula dos 5% de votação estivesse vigorando na eleição de 2004, nós a teríamos ultrapassado", lembrou Rubens.

O prefeito eleito de Cascavel, Lisias Tomé, sugeriu a elaboração de um calendário de encontros microrregionais, já para os primeiros meses de 2005, a fim de reaglutinar as forças locais do partido. Estiveram presentes ao encontro os coordenadores das regiões de Curitiba, Cascavel, Umuarama, Campo Mourão, Ponta Grossa, Ivaiporã, Lapa, Dois Vizinhos, Apucarana e Paranaguá. Também participaram o secretário-geral da executiva estadual, Rubico Camargo, e o primeiro secretário, Hélio Wirbiski.

Aliados tentam adiar convenção

Brasília – A ala governista do PMDB pretende convocar uma reunião da Executiva Nacional do partido para a próxima quarta-feira com o objetivo de cancelar a convenção marcada para o domingo a fim de decidir se os peemedebistas ficam ou deixam o governo Lula.

Em reunião realizada ontem entre o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), e o ministro das Comunicações, Eunicio Oliveira (PMDB), ficou definido que se não houver acordo com as outras correntes do partido até hoje para cancelar a convenção, a Executiva será convocada para quarta.

Para convocar a reunião, é necessário um terço dos 16 votos da Executiva. Votos que, segundo Renan, já chegam a 10 a favor da reunião e do cancelamento da convenção. Renan afirmou ainda que pretendia conversar com o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), para buscar um acordo e evitar a necessidade de realizar o encontro da Executiva.

Ideal

"O ideal seria o acordo. Só vamos tornar pública a convocação da Executiva na terça", disse, na tentativa de encontrar uma solução antes disso. "O importante é aproximar as correntes do partido", ressaltou o senador, aliado de primeira hora do Palácio do Planalto.

O senador disse ainda, que possui a assinatura de 20 dos 23 senadores do partido a favor da permanência no governo Lula. "A convenção é inoportuna. Vai decidir sobre uma questão que não está posta", afirmou. "O PMDB não tem outra saída a não ser fazer isso (ficar no governo), disse. Renan, provável candidato à presidência do Senado em 2005, evitou comentar a participação do PMDB numa possível reforma ministerial. "Essa coisa de ocupação de espaço é demorada", afirmou.

Atualmente, o partido ocupa duas pastas (Comunicações e Previdência). A ala descontente com o governo defende que o partido devolva os ministérios, seja independente e lance candidato próprio à Presidência da República em 2006.

SP reafirma distancimento

O PMDB paulista confirmou ontem, por unanimidade, apoio à proposta que prevê a saída do partido da base aliada do governo no Congresso Nacional. O resultado será encaminhado à Convenção Nacional do partido que decidirá o assunto, marcada para o próximo dia 12 em Brasília. O desejo do PMDB de SP mostra que o namoro com o PT corre o risco de acabar.

A vontade dos paulistas não é solitária. No último dia 4, os pemedebistas de Mato Grosso do Sul optaram por rumo semelhante. Os sul-mato-grosenses acolheram a decisão da maioria dos diretórios municipais e das lideranças políticas do partido no Estado.

No dia 3, a convenção estadual do PMDB de Pernambuco também decidiu pelo afastamento da base de apoio do governo federal. Dos 220 delegados peemedebistas de Pernambuco, 152 compareceram à reunião e votaram por unanimidade pelo rompimento com o governo Lula. "Provavelmente outros Estados, como Minas Gerais, Mato Grosso, Santa Catarina, entre outros, também decidirão pelo afastamento", afirmou o governador pernambucano Jarbas Vasconcelos.

Mesma posição

O PMDB gaúcho também engrossa o coro dos descontentes com a aliança com os petistas. O partido do governador Germano Rigotto também decidiu deixar o governo. A convenção gaúcha ocorreu no dia 3. O Rio Grande do Sul também votou a favor de que o partido lance à Presidência da República em 2006.

"Se continuarmos atrelados ao governo Lula, ficará muito difícil termos candidato a presidente. Perdemos espaço a cada dia, pois a candidatura de Lula à reeleição e de Geraldo Alckmin, do PSDB, estão se consolidando e ganhando força", afirmou no dia 29 de novembro, o presidente estadual do PMDB, senador Pedro Simon, que sempre se manifestou cauteloso em relação às posições do governo no Congresso Nacional.

O PMDB, que tem a maior bancada no Congresso Nacional, ocupa dois cargos de primeiro escalão no governo federal: os ministérios das Comunicações e da Previdência Social.

Ministros com um pé fora

Brasília – O presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), afirmou que já tem a garantia dos ministros Amir Lando, da Previdência Social, e Eunício Oliveira, das Comunicações, de que deixam o governo caso seja aprovada a proposta do partido de sair da base aliada. A decisão deverá ser tomada durante a Convenção Nacional da legenda marcada para o próximo dia 12 em Brasília.

Temer disse ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu, durante encontro com senadores do partido, o ministério do Esporte para ampliar o espaço do PMDB no governo. "Não queremos espaço no governo, mas sim na opinião pública", afirmou o deputado. Para Temer, a decisão de tornar o PMDB independente fortalece o partido e consolida a candidatura própria à presidência em 2006.

Rigoto condena manobra governista

São Paulo – O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), afirmou ontem que é inadmissível cogitar o adiamento da convenção nacional da legenda, prevista para o próximo domingo. "Isso enfraquece o PMDB, que vive hoje em uma encruzilhada e precisa tirar os rótulos de clientelista e fisiologista."

Para Rigotto, a cúpula peemedebista está muito distante das bases partidárias. "E se alguém deixar o partido após a convenção (que no seu entender deverá aprovar a independência em relação ao governo federal), tudo bem. Prefiro um partido menor, porém mais puro e homogêneo", disse, sem citar nomes.

O governador participou na tarde de ontem, em São Paulo, de um almoço com empresários do Grupo de Líderes Empresariais (Lide). Durante o evento, Rigotto foi perguntado pelo presidente do HSBC, Emilson Alonso, se o PMDB seria uma terceira alternativa, além de PT e PSDB, na sucessão presidencial de 2006. O governador disse que essa alternativa dependia basicamente da convenção aprovar a independência de seu partido da base governista. "Não precisamos de cargos no governo federal", disse.

Independência

Segundo o governador do Rio Grande do Sul, essa falta de independência também pode ser prejudicial ao governo federal. "Já falei isso ao Lula (presidente Luiz Inácio Lula da Silva)." Na visão de Rigotto, o interesse por cargos é algo que não tem fim e poderá arranhar a imagem do governo federal mais do que está arranhando.

Voltar ao topo