Planalto espera transição política tranquila no Egito

O Planalto manifestou hoje a expectativa por uma transição política no Egito sem derramamento de sangue e sem violações aos direitos humanos. Em entrevista no final da tarde, o assessor de assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, disse que os novos dirigentes do país precisam escutar as ruas. “Aqueles setores do sistema político à frente da transição precisam ter ouvidos atentos para as ruas”, afirmou. “As ruas fizeram escutar sua voz, tanto que uma série de tentativas de conter o movimento num quadro estreito sucumbiu.”

Marco Aurélio disse que a comunidade internacional deve ter “sensibilidade” para entender que o episódio no Egito não é um fenômeno isolado na região do Norte da África e não se encerrou. “Houve uma vitória importante das reivindicações populares com a saída do presidente Mubarak. Temos de ver o que vai acontecer daqui para frente”, disse. “Acredito que pelo que houve até agora é muito difícil que a vontade das ruas seja confiscada.”

Ele relatou que a presidente Dilma Rousseff foi informada no começo da tarde sobre a queda de Mubarak. Ele disse que o Planalto acompanhou com tensão o desenrolar da crise no Egito nos últimos dias. O assessor classificou o fato como um “movimento democrático” do ponto de vista político e social.

Ao comentar sobre o comércio entre Brasil com o Egito, Marco Aurélio escorregou e disse que as agitações que “passada essa pequena turbulência” as relação será restabelecida. Durante toda a entrevista, o assessor, no entanto, deixou claro que o episódio tem abrangência que ultrapassa os limites do Egito.

A presidente Dilma está mantendo contatos com o ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, para avaliar a situação no Egito. Patriota está neste momento nos Estados Unidos, em reunião na Organização das Nações Unidas. No dia 31 de janeiro, em rápida entrevista em Buenos Aires, a presidente Dilma Rousseff já dizia esperar pela democracia no Egito. “Se o país der ao seu povo todas as condições de desfrutar o desenvolvimento”, ressalvou. “O governo brasileiro olha com expectativa e torce para que ele (o Egito) seja democrático, que o país leve o seu povo a ter todas as condições de desfrutar o desenvolvimento”, afirmou, naquela data, a presidente.

Itamaraty

No começo da tarde, o Itamaraty divulgou nota para manifestar a “expectativa” do governo brasileiro por uma transição pacífica no Egito. “O Brasil manifesta sua expectativa de que a transição política naquele país transcorra dentro do respeito às liberdades políticas e civis e aos direitos humanos da população, em ambiente de paz e tranquilidade”, destacou o comunicado.

Brasil e Egito estreitaram relações em 2003, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em busca de novos mercados para produtos brasileiros, Lula esteve no Cairo em dezembro daquele ano para um encontro com Mubarak. O discurso de Lula na recepção promovida pelo ditador egípcio seguiu o tom diplomático. “Vim, hoje, por também reconhecer o papel extraordinário que o presidente Mubarak tem no mundo”, disse Lula à época. “Quem acompanha a política sabe que o presidente Mubarak é um homem preocupado com a paz no mundo, com o fim dos conflitos, com o desenvolvimento e com a justiça social.”