PF: testemunha foi paga para encobrir quebra de sigilo

Investigação da Polícia Federal revela que partiu da pré-campanha da petista Dilma Rousseff a iniciativa de contratar o jornalista Amaury Ribeiro Jr., autor da encomenda e financiador direto da quebra de sigilo de líderes tucanos e da filha e genro do presidenciável do PSDB, José Serra. O jornal O Estado de S. Paulo teve acesso à integra do inquérito da PF que detalha a anatomia da violação, além de disputas por dinheiro dentro da campanha de Dilma e a existência de um depósito de R$ 5 mil, em dinheiro vivo, a poucos dias do primeiro turno eleitoral, para calar uma testemunha-chave sobre a violação de sigilo.

No inquérito, há comprovantes de depósito, feitos nos dias 9 e 17 de setembro, na conta do Dirceu Rodrigues Garcia, o despachante que coordenou a pedido de Ribeiro violações nas delegacias da Receita em São Paulo. Em seu depoimento, no dia 6 de outubro, Garcia afirmou que o jornalista ligado ao PT deu o dinheiro no mês passado para que ele não contasse nada sobre a violação do sigilo. “Amaury por diversas vezes pediu ao declarante (Dirceu) que se fosse procurado para se explicar na polícia, deve neste caso ficar calado”, diz trecho do depoimento.

O despachante, porém, nega que os R$ 5 mil depositados pelo jornalista Amaury Ribeiro Jr. em sua conta tenham sido um “cala boca”. Segundo ele, foi uma “ajuda de custo” – auxílio para eventual viagem ao interior, como sugeriu o próprio Amaury. “Ele só falou assim: ‘Fica aí como auxílio para você. Se você quiser viajar lá para a sua cidade, lá para o interior e tal.’ Foi um auxílio, uma ajuda de custo. Jamais fui ameaçado. O Amaury não é bandido,” refutou Garcia.

Campanha

Convidado para trabalhar no núcleo de inteligência da campanha petista, Ribeiro desembarcou em Brasília em abril deste ano e ficou hospedado num flat, pago pelo jornalista Luiz Lanzetta, dono da Lanza Comunicação, que cuidava da estratégia de mídia da campanha de Dilma. Só a equipe do jornalista Luiz Lanzetta, patrocinador do convite a Ribeiro recebia R$ 150 mil mensais do comitê.

De acordo com dados do inquérito, o jornalista, então funcionário do jornal Estado de Minas, procurou o despachante, em setembro de 2009, para pedir as declarações de rendas dos tucanos, entre elas a do vice-presidente do partido, Eduardo Jorge, e a da filha de José Serra, Verônica. O valor do serviço: R$ 12 mil. O dinheiro foi entregue num pacote e contado no banheiro, no dia 8 de outubro do ano passado, no Bar da Onça, na Avenida Ipiranga, em São Paulo.

No último dia 15, Ribeiro falou pela terceira vez à PF. Contou que conheceu o despachante em 2008 e que pedia a eles pesquisas sobre as empresas dos tucanos. Segundo o jornalista, a investigação fazia parte de um trabalho para o jornal Estado de Minas em busca de eventual proteção do ex-governador Aécio Neves contra um suposto serviço de espionagem comandado pelo deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) e pessoas ligadas a Serra. O jornal custeou as viagens, conforme comprovantes que estão no inquérito. Amaury, porém, deixou a empresa no fim de 2009.