MST quer fazer de Iaras, em São Paulo, novo Pontal

Líderes formados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Pontal do Paranapanema, região mais conflituosa do Estado, se transferiram para Iaras, Borebi e Agudos, nos arredores de Bauru, onde o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) apontou a existência de 17 mil hectares de possíveis terras devolutas. Além da Fazenda Santo Henrique, da Cutrale – desocupada na quarta-feira, após ter sido depredada -, o movimento ocupou mais 12 propriedades desde que intensificou a sua atuação no centro-oeste paulista.

O coordenador estadual do MST, Paulo Albuquerque, um dos líderes formados no Pontal, diz que o alvo são terras públicas griladas. O movimento estabeleceu uma base em Iaras e, segundo ele, pelo menos 400 famílias estão acampadas na região à espera de lotes da reforma agrária. “Do Pontal são poucas, a maioria é daqui mesmo de Iaras, Itapeva e Promissão.”

Os assentamentos já criados pelo Incra, como Zumbi dos Palmares e Rosa Luxemburgo, foram insuficientes para atender à demanda. “Precisamos de mais 4 mil hectares e terra pública por aqui é o que não falta”, afirma Albuquerque. A fazenda da Cutrale continua na mira. “É terra grilada e plantaram laranja para esconder.”

A empresa alega que é dona legítima e apresentou documentos à Justiça. O delegado de Borebi, onde ocorreu a ação, Jader Biazon, afirma que as redondezas receberam muitos sem-terra do Pontal. “A região é mais valorizada e bem localizada, no centro do Estado”, diz.

A escolha da região não é aleatória. Uma das principais razões que levam o movimento a concentrar forças na área, nos arredores dos municípios de Iaras e Borebi, é a incerteza a respeito dos títulos de propriedade. De acordo com documentos reunidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), trata-se de uma área pública, que estaria sendo ocupada indevidamente por particulares. O caso está sendo discutido há décadas na Justiça, fato que acaba criando um clima de incertezas e insegurança.